São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 1994
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Noite de blues esquenta mais o Free Jazz

CARLOS CALADO

Dois pesos-pesados do blues comandaram a festa na segunda noite do Free Jazz, anteontem em São Paulo. Com B.B. King e Etta James no palco do Palace, o resultado não poderia ser outro: platéia nocauteada e, mesmo assim, pedindo mais.
Quem esperava uma Etta James mais jazzística, na linha do CD que gravou com canções de Billie Holiday, acabou reencontrando a debochada blueseira de sempre.
``Vocês gostam de blues, hein?", brincou a rotunda cantora, ao perceber a reação excitada da platéia a cada um de seus trejeitos escancaradamente obscenos.
Demonstrando cansaço pelo show da tarde (no Velódromo da USP), a ``mama do blues" preferiu baladas tingidas de ``rhythm & blues", como ``I'd Rather Be Blind" e ``A Lover Is Forever", cantando sentada durante quase todo o show.
Mas nem isso diminuiu o impacto de sua banda afiada, que destaca o baixo de Richard Cousins e as guitarras de Joshua Sklair e Robert Murray.
Se a temperatura já era alta durante o show de Etta, o ponto de fervura chegou com a poderosa banda de B.B. King. O ``rei do blues" foi recebido como manda o cerimonial: com o público em pé, dançando e gritando.
Para os fãs do blues, ir a um show de B.B. King é como assistir a um culto religioso. O ritual é o mesmo: o ``rei" alterna números dançantes aos mais lentos.
Mas o carisma musical de King afasta qualquer perigo de redundância. Cantando e tocando com um fervor quase religioso, durante 90 minutos ele comanda e agita sua congregação, levando-a ao transe inúmeras vezes.
Foi o que se viu e ouviu em números como ``Caledonia", ``Rock Me Baby", ``I'm a Bluesman" e ``Thrill Is Gone". Mesmo cansado pelo show da tarde, o magnânimo King não privou seus fãs de nem um minuto a menos de música.
E para não perder o costume, só saiu do palco depois da tradicional distribuição de autógrafos e lembrancinhas, com os fãs se espremendo na boca do palco para chegar mais perto do ídolo. Rei jamais perde a majestade.

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