São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 1994
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Revelações petrificantes

Há muito a opinião pública exige maior transparência nas contas públicas e, em especial, nas contas de estatais como a Petrobrás. Os resultados têm sido pífios. Tais empresas dedicam-se mais à propaganda oficialesca que ao dever maior de franquear ao público toda e qualquer informação a seu respeito.
Quando acontece de alguns dados tornarem-se conhecidos, entretanto, surpreende sempre a capacidade com que essas empresas ocultam ao público os seus resultados. Apresentam-se, como é frequente no caso da Petrobrás, como vítimas permanentes. Agora, por exemplo, a divulgação de resultados parciais de uma auditoria determinada pelo presidente Itamar Franco na estatal mostra que os privilégios ainda são frequentes e os critérios de formação de preços discutíveis.
Há por exemplo parcela considerável de funcionários (mais de 10% da empresa) que recebe vencimentos adicionais por periculosidade sem estarem expostos a qualquer trabalho que implique riscos.
A auditoria também concluiu que o critério de ponderação de custos da matéria-prima leva a uma sensível superestimação. Reconhecido tal desvio, por exemplo, o custo da matéria-prima por barril cairia de R$ 13,21 para cerca de R$ 11,00.
Falta ainda dar outros passos para colocar a nu as alternativas de racionalização da empresa e outros gargalos provocados pelo corporativismo dos seus privilegiados funcionários. É o caso do seu fundo de pensão (Petrus), beneficiado por políticas igualmente prestimosas por parte da empresa. Quanto da eficiência presente para a estatal como um todo (e para a sociedade) estará sendo desde já transformada em benesses futuras exclusivas para os funcionários da Petrobrás?
São questões que merecem, exigem, uma transparência ainda maior. Uma transparência que deve afinal traduzir-se em decisões políticas mais ousadas, como a quebra do monopólio. Afinal, é no mercado que a empresa deve provar-se eficiente, não no papel.

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