São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 1994
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Dobrada tiragem de livro polêmico

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A editora The Free Press resolveu dobrar para 200 mil o número de cópias do livro ``The Bell Curve" colocadas à venda nos EUA.
O volume, que tem como subtítulo ``Inteligência e Estrutura de Classes na Vida Americana", é um dos mais polêmicos lançamentos editoriais deste ano no país.
É o maior sucesso de vendas nesta década da Free Press, divisão acadêmica da Simon & Schuster, apesar das 845 páginas e do preço de US$ 30.
``The Bell Curve" (o título é referência ao que a estatística classifica como ``distribuição normal", método para organizar dados em que a maioria da amostragem fica no meio de uma curva e as minorias nas pontas) foi escrito por um sociólogo, Charles Murray, e um psicólogo, Richard Herrstein.
Herrstein, professor da Universidade Harvard, morreu de câncer aos 64 anos no mês passado. Murray, 51, é associado ao grupo de estudos de tendência conservadora American Enterprise Institute, em Washington.
O livro faz uma análise estatística detalhada de centenas de estudos feitos ao longo deste século sobre QI e etnias.
Ele defende a tese de que inteligência é em grande parte hereditária, que a raça negra como um todo tem QI inferior à branca e que o Estado não deve gastar dinheiro do contribuinte para tentar mudar a condição dos menos inteligentes que, segundo ele, é irreversível.
Reações
O livro mereceu capa e reportagem de dez páginas da revista ``Newsweek" de 24 de outubro, provocou convulsão interna na revista ``The New Republic", que publicou sua síntese junto com 18 artigos de protesto de seus colaboradores na edição de 31 de outubro, e foi tema de editoriais (quase todos críticos) dos mais importantes diários e revistas do país.
Até o presidente Bill Clinton teve que comentá-lo, em entrevista coletiva na sexta-feira passada. O presidente disse que ainda não havia lido ``The Bell Curve" mas discorda de suas teses.
``Eu discordo da idéia de que há diferenças inerentes baseadas em raça na capacidade do povo americano de atingir seu potencial completo", afirmou Clinton.
``Eu simplesmente não concordo com isso. Isso vai contra toda nossa história e toda nossa tradição... Não há tanta diferença racial aqui como se pensa que há", disse o presidente.

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