São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 1994
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Que país é este?

Grandes redes de lojas viram as vendas a prazo de bens duráveis caírem sensivelmente no final da semana que se seguiu às medidas de restrição ao crédito. Não por acaso, lojistas de São Paulo identificam na periferia a maior redução nas compras. Lá se encontram os novos consumidores que a estabilização e o crescimento econômico criavam. E que o governo e seu candidato alardeavam com tanto orgulho, antes da eleição.
Seria ilusório supor que a inflação pudesse ser debelada sem qualquer medida amarga. Mas o reconhecimento de que o caminho da estabilização não é uma alameda florida não exime o governo de sua responsabilidade face à perversa situação social do país. Iniciativas de contenção do consumo precisam vir acompanhadas de outras que propiciem o crescimento da oferta de produtos.
O desafio do Brasil está em atender à nova demanda dos setores de baixa renda, em permitir que mais brasileiros possam consumir além da mera sobrevivência. Não se trata de eliminar excessos de um sistema que se expandiu demais. Ao contrário, trata-se de dar uma oportunidade a pessoas para as quais a economia sempre foi demasiadamente pequena. Cidadãos que o Brasil quase ignora.
Para isso, o aumento da capacidade produtiva é um requisito imprescindível. Mas parece ser desprezado: o governo desestimula os investimentos com o compulsório de 15% sobre os empréstimos e não apresenta qualquer iniciativa de porte na área de política industrial. É impressionante o despreparo do país para sustentar a melhoria do nível de vida de seus habitantes.
Na ausência de um horizonte que inspire segurança, as decisões de expansão da capacidade produtiva se retraem. A retomada das contratações de pessoal constatada pela Fiesp até a primeira quinzena do mês contrasta com o risco de recessão apontado agora pela mesma entidade. A medida que elevou os juros tem o efeito de inibir os novos investimentos e a elevação do nível de emprego.
É dramático que dezenas de milhões de brasileiros não tenham hoje suas necessidades básicas atendidas. Mas é ainda mais inaceitável acomodar-se no quadro atual. Frustrar o aumento da produção é condenar o futuro do Brasil à reprodução desse angustiante presente.

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