São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 1994
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Filho de Bulhões diz que se sente a `Geni' de Alagoas

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

O filho do governador Geraldo Bulhões, Gustavo, 26, afirmou em bilhete enviado às 14h de ontem à Agência Folha que está se ``sentindo como a Geni da música do Chico Buarque".
O refrão da música diz: ``Joga pedra na Geni,/ joga bosta na Geni,/ ela é feita pra apanhar,/ ela é boa de cuspir".
Gustavo está preso desde as 17h de anteontem no Manicômio Judiciário de Alagoas com outros 145 condenados. Ele foi condenado a seis anos de prisão pela Justiça sob a acusação de tráfico de drogas.
No bilhete manuscrito, de cinco folhas, enviado à reportagem, Gustavo volta a dizer que é inocente e que não precisaria vender maconha para sobreviver. ``Sou um cara que posso me considerar rico. Tenho um pai governador e uma mãe com quem me dou muito bem."
O advogado de Gustavo, Moacir de Vasconcelos Santos, enviou ao juiz autor da condenação um recurso destinado ao Tribunal de Justiça de Pernambuco pedindo a anulação da sentença. O advogado sustenta que não há provas suficientes para a condenação.
Leia os principais trechos do bilhete:
SENTIMENTO
``Toda injustiça é difícil de suportar. Sou uma pessoa justa e sincera. Tenho defeitos como toda pessoa tem. Estou me sentindo a própria Geni da música do Chico Buarque. Queria poder falar pessoalmente com você, mas aqui estou como um preso e não posso ir contra as normas do manicômio."
MORTE E INSETOS
``Vou te dizer (como) estou convivendo aqui. Aqui tem gente que matou o pai, que matou a mãe, que come inseto, que come fezes, não por falta de comida, mas porque é pinel."
GRAVIDEZ
``Amo minha mulher e quando você me pergunta se é difícil estar aqui, digo que é muito. Minha mulher está sofrendo muito. No momento em que ela mais precisa de mim, estou aqui. Tenho três filhos e um está na barriga da minha mulher. Ela está no último mês de gestação e não pode estar sofrendo tão fortes emoções. Sou um cara que ainda acredita na Justiça dos homens e na de Deus. Me desculpe. Estou um pouco emocionado. Queria falar olhando olho no olho como é de costume na minha pequenina mas grande Alagoas..."
TRAFICANTE
``Como você pode ser acusado de ser traficante se você nunca foi preso nem consumindo nem comprando nem muito menos vendendo? Sou um cara que posso me considerar rico. Tenho minha casa própria, meu carro, minha moto, tenho uma das melhores gráficas de Alagoas, tenho um pai governador que me ajuda no que preciso, tenho uma mãe, dona Denilma, com quem me dou muito bem. Sou assessor particular dela. Por isso tudo, eu digo, com toda franqueza, que não preciso vender aquilo de que estão querendo me culpar. Sou inocente e irei provar isso com toda certeza do mundo. É barra ser inocente e estar sendo privado da coisa que Deus deu à gente, que é a liberdade. A liberdade não tem preço."

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