São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 1994 |
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Trabalho infantil cresce 2% em Franca
ROBERTO OLIVEIRA
Segundo o sindicato dos sapateiros de Franca (401 km ao norte de SP), o setor emprega hoje de 4.000 a 5.000 menores no processo de terceirização da indústria calçadista local. O Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe o trabalho de menores de 14 anos. O sindicato das indústrias de Franca informa que as empresas não empregam menores (leia abaixo). Ontem, o jornalista Gilberto Dimenstein divulgou na Folha que políticos norte-americanos pressionam o governo dos EUA a boicotar exportações brasileiras. O motivo é uma pesquisa feita no final de julho pelo sindicato dos sapateiros de Franca com apoio do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). O levantamento demonstrou que 73% das 1.561 crianças de até 14 anos entrevistadas prestavam serviços à indústria calçadista local. A pesquisa serviu de base para um documento do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos (equivalente ao Ministério do Trabalho) que inclui o Brasil e outros 19 países como usuários de trabalho infantil irregular. Segundo o sindicato dos sapateiros de Franca –filiado à CUT (Central Única dos Trabalhadores)–, as crianças estão espalhadas pelas 1.900 bancas de pesponto (costura) existentes na cidade. Pelo menos 800 são clandestinas. O pesponto é feito em garagens, fundo de quintal e até em cozinhas de casas. A maioria dos lugares tem pouca luz e circulação de ar. O estudo apoiado pelo Unicef revelou que 65% das crianças entrevistadas trabalham em casa ou em bancas de pesponto. Cerca de 56% ganham até meio salário mínimo (R$ 35). Os adultos que fazem o mesmo trabalho ganham de R$ 130 mil a R$ 300 mil, dependendo da produção individual. O pesponto é a única fase da produção do calçado que é terceirizada. O trabalho é dividido em duas etapas (costura e colagem). As indústrias pagam pelo pesponto de R$ 0,70 a R$ 2,90 dependendo do modelo do sapato. Os ``banqueiros", como são conhecidos os donos das bancas de pesponto, pagam R$ 0,30 pelo par. A maioria dos empregados das bancas não tem contrato de trabalho. As bancas funcionam das 7h às 17h e algumas abrem também aos sábados e domingos. Ex-funcionários de fábricas locais se tornaram pequenos empresários através das bancas de pesponto. Eles chegam a faturar por mês, em média, R$ 5.000. Texto Anterior: James Brown se irrita com equipes de TV Próximo Texto: Sindicato nega irregularidade Índice |
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