São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Dinheiro e direitos humanos

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Em contato ontem com esta coluna, o ministro do Trabalho, Marcelo Pimentel, apontou uma ``guerra comercial" por trás das ameaças dos Estados Unidos de boicotar as exportações brasileiras que utilizem trabalho infantil.
Em essência, os norte-americanos estariam mais preocupados com a competição econômica do que direitos humanos. O ministro afirmou que os EUA ``exportariam desemprego" caso aplicassem o boicote.
Relatório do Departamento do Trabalho do governo dos EUA denunciou o uso de trabalho infantil na fabricação de produtos exportados aos EUA –calçados, por exemplo. Cresce no Congresso norte-americano movimento para barrar esse tipo de exportação, o que afetaria vários países do Terceiro Mundo.
Pimentel foi sincero e transparente num ponto. Admitiu a ineficiência do Estado em fiscalizar e coibir a exploração do trabalho infantil. ``Dispomos de apenas 1.500 fiscais para olhar todo o Brasil. Quando cheguei aqui, nem carro tínhamos, alguns fiscais tinham de andar com seu próprio carro."
Pimentel disparou para todos os lados. Acusou setores do Judiciário de distribuírem alvarás para trabalho infantil. Disse que os sindicatos rurais não colaboram, mantendo silêncio diante das famílias que usam os filhos. Afirmou que não conta com a ajuda da Igreja Católica.
O fato é que o trabalho infantil deve ser combatido como se combate, por exemplo, tráfico de drogas. Há abundantes relatos de que crianças vivem literalmente em estado de escravidão.
PS – Por falar em impunidade, a Folha revelou em 1992 a existência de leilões de meninas virgens no Sul do Maranhão, dando o nome e localização dos bordéis. Num encontro que agora se realiza em Belém, a Pastoral da Mulher do Maranhão, ligada à Igreja Católica, denunciou que os leilões continuam e nos mesmos lugares. São leiloadas, segundo a Pastoral, meninas de até 9 anos. Algumas delas não são mais aceitas nas boates e, sem rumo, acabam nos garimpos. Houve ameaças de mortes a pessoas da Igreja que investigaram os leilões.

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