São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994
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`Número 1' de FHC vai para o governo

GABRIELA WOLTHERS; VINICIUS TORRES FREIRE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

VINICIUS TORRES FREIRE
Apesar de afirmar que só decidirá os nomes de seus ministros em dezembro, o presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, emite sinais claros de que o economista Paulo Renato Souza fica na equipe.
Esse gaúcho, de 49 anos, é tido hoje como o ``número 1" de FHC. Ao lado de Sérgio Motta, secretário-geral do PSDB, é um nome certo para o futuro governo. Hoje, seu destino seria o Ministério do Planejamento.
O próprio presidente eleito definiu que a pasta será uma das mais importantes de seu governo. Caberá a seu chefe coordenar a ação administrativa e acompanhar a execução do programa governamental.
Na política –ou, mais precisamente, na alta burocracia pública–, Paulo Renato ganhou postos devido à sua capacidade administrativa.
Colegas de universidade e governo reconhecem seu poder de articulação, aglutinação de idéias e talento para a elaboração de planos de governo.
Um temperamento normalmente afável se torna mais sanguíneo quando o assunto é o Grêmio de Porto Alegre, time para o qual torce com fanatismo. Paulo Renato carrega outra marca do Sul: trata todas as pessoas por ``tu".
Desde a arrancada de FHC rumo ao Planalto, sua função é exatamente esta: planejar. Foi convidado pessoalmente por FHC para ser o responsável pela elaboração do programa de governo.
A relação do presidente eleito com Paulo Renato data do tempo em que ambos se alinharam contra o regime militar.
``Grupo do Chile"
Sua entrada definitiva na política se deu através dos intelectuais do MDB paulista. Em 1966, Paulo Renato foi assessor do hoje senador Pedro Simon (PMDB) na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.
O economista foi para Santiago em 1968 fazer seu mestrado em economia. Na Universidade do Chile, foi aluno do senador eleito José Serra (PSDB-SP), que o apresentou a FHC.
No ``grupo chileno" dos intelectuais de oposição, começa a história que levaria Paulo Renato a cordenar o plano de governo de FHC e a escrever os textos-base dos programas de TV tucanos.
Vistos à distância, os ``chilenos" eram o embrião do PSDB.
Com o auxílio de grupos formados em praticamente todos os Estados, Paulo Renato fechou o programa de governo de FHC em dois meses e meio. Na opinião do presidente eleito, deu provas de agilidade e capacidade de articular idéias e opiniões.
Durante o horário gratuito, trabalhou com os ``marketeiros" da campanha para que as metas de governo fossem traduzidas de uma forma clara ao eleitor.
O ``Abreu"
Foi em uma dessas reuniões que surgiu o ``Abreu", apelido dado ao eleitor menos esclarecido, uma espécie de ``descamisado", celebrizado na era Fernando Collor.
``Não fazemos nada sem pensar no Abreu", afirmava sempre Paulo Renato. A eleição terminou, FHC saiu vitorioso, e o assessor de todas as horas permanece com a mesma função: planejar.
Enquanto FHC viajava pelo exterior, o economista percorreu os principais ministérios em busca de informações sobre a real situação dos órgãos do governo.
Ele se atém principalmente a dois aspectos: estrutura das pastas e Orçamento. Na semana retrasada, esteve no Ministério da Educação e no Itamaraty e manteve contatos telefônicos com o ministro da Saúde, Henrique Santillo, e com Romildo Canhim, da Secretaria da Administração Federal.
Idéia fixa
A obsessão de Paulo Renato é o Ministério do Planejamento. Ele se reúne pelo menos uma vez por semana com o ministro Beni Veras para esmiuçar o Orçamento da União de 95 e definir as alterações necessárias.
Na área econômica, divide com o assessor-especial do Ministério da Fazenda, Edmar Bacha, a tarefa de encontrar soluções que conciliem o que tem sido difícil no Brasil: estabilidade econômica e desenvolvimento.
Versátil
Os múltiplos talentos de Paulo Renato o fazem candidato a diversos cargos no governo FHC.
Disciplinado, atém-se à resposta convencional: ``A decisão sobre o ministério é de competência exclusiva do presidente da República", declara. Presidente, aliás, que ele trata por ``Fernando".
Ex-secretário de Educação da gestão de Franco Montoro em São Paulo (1982-1986) e ex-reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), também é cogitado para o Ministério da Educação.
Seus assessores mais próximos, no entanto, afirmam que ele relutaria em aceitar esta indicação. Defende teses polêmicas para a área, como a cobrança de uma taxa de alunos que tenham renda para estudar em universidades públicas.
Para estes mesmo assessores, Paulo Renato afirma que gostaria de chefiar o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Antes de ser chamado para coordenar o programa de governo de FHC, Paulo Renato foi gerente de operações do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), em Washington.
Presidiu também, entre 1981 e 1983, a Fundação Pedroso Horta, chamada a ``universidade peemedebista". A fundação se dividiu em dois grupos.
Os ``chilenos" –o prórpio Paulo Renato, Serra e FHC– ligaram-se a Franco Montoro. João Manuel Cardoso de Mello e Luiz Gonzaga Belluzzo (que orientou o doutoramento do principal assessor de FHC) se alinharam com Ulysses Guimarães, ficaram no PMDB e estiveram ao lado do candidato derrotado do partido, Orestes Quércia, nas eleições presidenciais deste ano.
Paulo Renato fez parte do grupo chefiado por Serra e que elaborou o plano para o governo de Franco Montoro (1983-87), equipe que recebeu o apelido de ``Sorbonne" por reunir as principais cabeças das universidades paulistas.

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