São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994
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São Paulo é a pedra no sapato palestrino

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Por mais que o tricolor venha tropeçando pelo caminho e chegue esta tarde esgotado diante do Palmeiras, ainda assim é o São Paulo.
Ainda que o Palmeiras seja o melhor time do país, ainda assim é o São Paulo o único que tem sido uma pedra no sapato palestrino.
Sim, porque é bom lembrar que, se o Palmeiras não viveu o drama de perder a Libertadores na decisão, foi porque esse mesmo tricolor eliminou-o antes.
E mais: o Palestra que está disputando as últimas rodadas do Brasileirão, exatamente por saber-se superior aos demais, já anda perdendo a paciência. A derrota para o Flamengo, na semana passada, foi fruto dessa impaciência, e, claro, do talento de Sávio. Assim como a dramática vitória de 1 a 0, diante do Botafogo.
O pior que poderia acontecer ao Palmeiras, nesta quadra do torneio, seria repetir isso diante do São Paulo, hoje. Atacar às cegas, oferecendo o contragolpe a Euller e Muller.
Em contrapartida, o São Paulo, apesar de seus dois ou três cabeças-de-área habituais e dos milagres de Zetti, tem se revelado vulnerável na defesa, o que poderá facilitar a tarefa palestrina. Sim, porque se o Palmeiras fizer um gol antes dos 30min do primeiro tempo, preparem-se para até mesmo uma goleada histórica.
Resumindo: para o Palmeiras, o clássico de hoje não representa apenas a garantia ou não, matemática, de sua passagem para a próxima fase. Pode significar, isso sim, a porta que o levará de volta ao céu, recuperando de vez a tranquilidade, ou aquela que o mergulhará no inferno, com direito ao acompanhamento das cornetas.

No exato momento em que todos os envolvidos direta ou indiretamente com o universo do futebol queimam as pestanas em busca das causas e os consequentes remédios para acabar com a violência crescente nos estádios, vem o STJD, justamente a casa da Justiça esportiva, e nos dá um exemplo acabado de onde se finca a raiz do problema.
Ao absolver o jogador William e devolver os cinco pontos tomados do Vasco, condenando Eurico Miranda a 90 dias de suspensão, os doutos senhores togados provaram a todos que prevalece a impunidade. Ora, Eurico Miranda fica tão somente proibido de entrar em campo, o que é absolutamente irrelevante, inócuo. O clube, que ele representava oficialmente quando retirou da sala de doping o jogador William, nada sofre, embora naquele exato instante nem a Cruz de Malta (que, por sinal, não é de Malta) era mais Vasco da Gama do que ele.
Quanto ao jogador, ao absolvê-lo, o tribunal cassou-lhe a certidão de cidadão, aquele indivíduo capaz de distinguir seus direitos de seus deveres. Quer dizer, então, que, se o seu patrão mandar você cometer uma infração, por mais leve que seja, você o fará, como um zumbi?
O que isso tem a ver com a violência nos estádios? Só a pena da lei legitimando a impunidade. Só?

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