São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994
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Utilidade da CIA está em discussão nos EUA

USA Today
De Arlington

SAM VINCENT MEDDIS; RICHARD WOLF
DE ARLINGTON

SAM VINCENT MEDDIS e
RICHARD WOLF
Durante a Guerra Fria, a CIA (agência central de inteligência) inspirava respeito e temor: era o poder oculto que tudo sabia e que podia sustentar ou derrubar governos. Segura no sigilo de sua missão e em sua sede isolada em Langley, Virgínia, durante décadas ela escapou do exame do Congresso.
Hoje, com seu prestígio em farrapos depois do caso do espião Aldrich Ames e devido à incerteza sobre sua missão no pós-Guerra Fria, os críticos já se fazem ouvir.
Pela primeira vez na história da CIA, o Congresso criou uma comissão para rever o emaranhado de dispositivos nacionais de segurança, podendo vir a reestruturar o aparelho de informações dos EUA, de custos estimados em US$ 27 bilhões. Segundo o senador democrata Patrick Leahy, "se não forem feitas mudanças no nível do Executivo, elas serão determinadas pelo Congresso".
O diretor da CIA, James Woolsey, afirma que apesar da publicidade negativa a inteligência americana ainda é a melhor do mundo.
Mas admite que a CIA foi culpada de "negligência extrema" por não haver detectado o agente duplo que durante quase uma década espionou para soviéticos e russos.
A CIA é apenas uma pequena parte do sistema de inteligência dos EUA –uma rede de espiões, aviões, satélites futuristas, navios e submarinos. A maior parte das despesas fica com agências militares do Pentágono, cujos programas são mantidos em sigilo total.
Este ano o presidente do comitê de inteligência do Congresso, Dan Glickman, democrata do Kansas, pediu que o orçamento total de inteligência fosse levado a público.
A medida foi derrotada, mas o Congresso cortou o orçamento em 2% e determinou que até 1997 o quadro de funcionários seja reduzido em 17,5% em relação a 1992.
Mas os itens que custam caro no setor de inteligência são os sofisticados satélites espiões (entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões), usados para monitorar mísseis soviéticos durante a Guerra Fria.
Para alguns observadores, os problemas da inteligência dos EUA têm menos a ver com dinheiro e mais com a falta de disposição para enfrentar transformações.
Segundo congressistas, o fato de Woolsey não haver punido os agentes implicados no caso Ames com demissões e rebaixamentos (em lugar de meras repreensões) ilustra a inércia reinante.
Críticos questionam a capacidade de se proteger contra espiões. Segundo informações recentes, a maioria das fontes de inteligência dos EUA em Cuba e na Alemanha era na realidade de agentes duplos que trabalhavam para seus respectivos regimes comunistas.
Mas os altos representantes da inteligência americana dizem que, como seu trabalho é secreto, os fracassos fazem manchetes e os êxitos passam despercebidos.
Segundo eles, o programa nuclear da Coréia do Norte foi descoberto principalmente porque a CIA o acompanhou desde o início.
As novas missões da inteligência –infiltrar mansões do narcotráfico na Colômbia e manter-se informada sobre instalações nucleares em ex-repúblicas soviéticas– podem ser mais difíceis que acompanhar tanques, navios e mísseis do Pacto de Varsóvia.
Os EUA precisam de informações sobre "países bandidos" como Iraque, Irã e Coréia do Norte. "Tudo isto é importante para a segurança do país."
Tradução de Clara Allain

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