São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994
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A renovação de Minas

HÉLIO COSTA

``Dar um boi para não entrar na briga e uma boiada para não sair". Quem não conhece o surradíssimo dito popular a respeito dos mineiros? Pois Minas Gerais agora está dando todas as suas boiadas para ganhar a briga da mudança e da renovação.
A exemplo do Brasil, que com o Plano Real iniciou um novo ciclo econômico, Minas quer equilíbrio e desenvolvimento, crescimento econômico e justiça social, presença política e renascimento cultural. Arrogância e prepotência, que são as raízes do continuísmo, não compõem o jeito mineiro de ser, assim como o provincianismo, a inércia e a omissão deixaram de ser traços do nosso modo de viver.
Após visitar mais de uma vez cerca de 700 municípios mineiros, em quase quatro anos de intenso trabalho de mobilização política junto a trabalhadores rurais e urbanos, estudantes, empresários e produtores rurais, donas de casa e lideranças comunitárias e políticas, posso afirmar que Minas já iniciou o seu processo de mudança.
Nosso povo, cansado de esperar pela ação do governo, aos poucos vai se organizando e tomando as providências que o setor público deixou de adotar.
Os prefeitos, espezinhados e humilhados durante muitos anos, buscam nas associações regionais a solidariedade para a realização de obras inadiáveis.
Os empresários, mesmo submetidos a permanente arrocho fiscal, demonstram que a iniciativa, a imaginação e a criatividade podem sobreviver mesmo nas mais duras condições.
Os pequenos agricultores, que antes contavam com assistência técnica de qualidade e linhas especiais de financiamento nos bancos estaduais, foram abandonados à própria sorte. Ainda outro dia, em Teófilo Otoni, houve inédita manifestação de protesto do empresariado, contra a excessiva carga tributária imposta pelo governo do Estado.
Minas sofre, mas resiste. Em algumas regiões, a iniciativa privada foi capaz de criar empregos, incorporar novas tecnologias e imprimir algum dinamismo à sociedade. Em outras, onde é total a carência de infra-estrutura, nem mesmo os empresários mais audaciosos tiveram condições de investir.
Por isso, o desequilíbrio regional, que já era grave, aprofundou-se ainda mais nos últimos anos, e mesmo os setores mais dinâmicos da economia foram tolhidos em seus projetos de expansão.
Nosso programa de governo, mineiro no seu jeito simples e no seu conteúdo realista, nasceu das visitas de trabalho que fizemos a todas as regiões, repetidas vezes, e traduz demandas, carências, necessidades, sentimentos e valores do nosso povo.
Incorporamos a ele a idéia central da parceria, que associará governo, comunidades, prefeitos e empresas num esforço solidário e emergencial de combate ao desemprego, à fome e à miséria em nosso Estado.
Parceiros seremos também na execução dos programas de médio e longo prazo, destinados a recuperar a produtividade agrícola, estimular a modernização industrial, relançar a indústria do turismo em Minas, produzir mais e melhores alimentos, explorar todas as oportunidades de exportação e, principalmente, estender a toda a população os confortos indispensáveis a uma vida digna e segura: moradia, serviços eficientes de saúde, saneamento básico, escola pública de qualidade, segurança no lar e nas ruas e democratização do acesso ao esporte e ao lazer.
Para isso, impõe-se uma revisão radical dos métodos e sistemas de gerenciamento, uma vez que o Estado até hoje sequer percebeu a existência de inovações eficazes como a reengenharia e os programas de qualidade, os quais exigem também uma nova política de recursos humanos, que estimule a eficiência e traga efetivos ganhos em remuneração e a valorização profissional do funcionalismo público.
Esse programa de governo –sintonizado com as prioridades mineiras e nacionais– irá se apoiar no rigoroso equilíbrio orçamentário, numa política fiscal e tributária que estimulará a produção, em vez de cerceá-la como se faz hoje, e, no gerenciamento técnico dos bancos estaduais, constituirá a melhor contribuição de Minas para o êxito do Plano Real.
Entendemos que as medidas de contenção do crédito, adotadas pelo governo federal para combater o excesso de demanda, são eminentemente transitórias. Afinal, o grande desafio brasileiro não é conter o consumo de bens, mas sim produzi-los de modo mais eficiente, a custos e preços menores, para que a população pobre tenham acesso a um mínimo de conforto e consumo.
Isto exige competência, seriedade, independência política e firmeza de propósitos, ou seja, tudo aquilo que os governistas e conservadores mineiros não demonstraram até hoje.
É por isso que Minas quer e vai mudar. O Brasil que renasceu com o Plano Real e as eleições presidenciais necessita bem mais do que discursos antigos, práticas anacrônicas e declarações de boas intenções.
Neste momento de grandes mudanças, que exigem maturidade, visão ampla do mundo, flexibilidade, imaginação criadora e, sobretudo, coragem para trilhar caminhos novos, é o que a oposição oferece aos mineiros.
É o que os mineiros buscam na oposição.

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