São Paulo, terça-feira, 1 de novembro de 1994
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Fazendo farol

Com a alta da inflação as atenções voltam-se para as variáveis sob controle do governo. Tarifas, câmbio e juros servem como faróis. Os mercados seguem o caminho sugerido por tais indicadores.
Ontem, por exemplo, o Banco Central puxou os juros. Volta entretanto a questão de saber se o BC será capaz de impor à economia juros reais mais elevados ou se não estará, como tantas vezes já ocorreu no passado, correndo atrás do prejuízo. Ou seja, fazendo os juros correrem atrás da inflação.
As tarifas públicas também já foram mexidas. Dos combustíveis às tarifas postais, passando pela telefonia, o governo promoveu pequenas reduções que, feitas as contas, em quase nada afetaram a inflação.
A política cambial também sofreu modificações. O governo atuou comprando e vendendo divisas, facilitou importações, colocou restrições à entrada de recursos externos, estimulou a formação de um fundo de investimentos em dólar.
Entretanto, assim como no caso dos juros e das tarifas públicas, também no caso do câmbio os sinais do governo e as decisões de política econômica têm sido ou insuficientes para indicar um caminho ou simplesmente inócuas.
Supondo-se que a inflação esteja na casa dos 3% até dezembro e somando-se a esta inflação a desvalorização do dólar frente ao real, o resultado é assombroso: o real poderá valorizar-se, diante do dólar, em apenas seis meses, mais de 40%.
Não se trata de julgar qual o câmbio "ideal" ou se a economia brasileira é ou não capaz de suportar essa valorização cambial. É questão complexa que ainda vai render muito. Mas uma coisa é certa: para o senso comum tudo o que sobe, desce. A valorização cambial, só por ser excessiva e rápida, pode estimular a expectativa contrária.
O resultado final, em câmbio, tarifas e juros, não chega a ser novidade. Apesar de todo o engenho e de muito empenho, o governo parece capaz de sempre conduzir os mercados ao oposto do que pretendia. Em vez de sinalizar, o governo se isola e só faz farol.

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