São Paulo, quinta-feira, 3 de novembro de 1994 |
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Apocalipse na CNN
NELSON DE SÁ
Foi a abertura, ontem na CNN. Pausa para as imagens. Tiros. Um policial, arma na mão, grita. A população vira um carro. Traficantes correm numa favela, arma na mão, sob tiros. Um ônibus queima. – Tiroteios entre a polícia e as gangues, que controlam a maioria das favelas do Rio. Policiais com metralhadoras descendo morros. À noite, tiros com balas que iluminam uma favela. De dia, um helicóptero desce sobre um barraco. – Nesta operação, a polícia matou 22 traficantes. Corpos cobertos numa rua, sob diversos ângulos. – Favelados tomam a rua. Uma mulher quebra o vidro lateral de um ônibus. Outro ônibus queima. Entra um chefe de polícia, afirmando: – O que nós temos aqui é uma guerra. Policiais correm em direção a um prédio em chamas. Um deles atira. Sobre uma cena de favela que se abre mostrando a proximidade com ruas de classe média, volta a locução: – A guerra nas favelas está vazando para a rica zona sul, deixando residentes num estado quase constante de pânico. Entra um senhor dizendo: – Eu tenho medo de sair. A cidade está fora de controle. Volta a locução, sobre outra cena de corpos no asfalto: – Enquanto a estatística da polícia fala em 20 homicídios por dia, o serviço funerário da cidade estima o dobro. Mais corpos. Uma senhora chora, contida por outra. Três caixões sendo fechados. – Quase toda semana há um funeral para a vítima inocente de uma bala perdida. Corta para Itamar, sorrindo. – Respondendo à crescente pressão, o presidente ordenou que os militares chefiem uma operação contra as gangues. Mais à frente, imagens de tanques nas ruas do Rio. – Os habitantes recordam como o crime diminuiu quando o Exército tomou as ruas do Rio, durante a Eco-92. Ao final, após uma parada de soldados, entra a imagem de d. Eugênio Salles, com locução da correspondente da CNN: – Enquanto isso o arcebispo do Rio de Janeiro ordenou às igrejas católicas para rezar por um fim à violência que está destruindo uma das cidades mais lindas do mundo. Mais imagens de violência. Um jovem joga um coquetel molotov sobre a polícia. A última cena é do Cristo Redentor, coberto por fumaça de incêndio ou de guerra. Texto Anterior: Ministro recebe carta dos EUA Próximo Texto: Sem-terra de Vitória da Conquista vão ao Incra pedir desapropriação Índice |
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