São Paulo, sexta-feira, 4 de novembro de 1994
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Ciro Gomes volta a criticar os aumentos de preços

JOEL SAMPAIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O ministro da Fazenda, Ciro Gomes, voltou a criticar ontem em Curitiba (PR) "os amigos da inflação". Ele participou da abertura do 17º Fórum de Secretários de Estado da Administração.
Mesmo procurando evitar generalizações nas críticas ao empresariado, o ministro mencionou o setor financeiro e os "oligopólios de baixa produtividade ou alta rentabilidade" entre os insatisfeitos com a queda da inflação.
Ciro afirmou que "o papel é um setor que está dando mau exemplo" ao se referir a aumentos recentes de 30% a 40% no preço do papelão. "Aumento de 30%, 40% como se explica?", perguntou.
Em São Paulo, o setor rebateu a crítica dizendo que está sendo fortemente pressionado pela cotação da celulose no mercado externo.
"Estamos atrelados ao preço internacional, que sobe em momento muito ruim, mas não significa que somos contra o plano", diz Horácio Lafer Piva, diretor da Klabin.
Para Ciro, as críticas a seu estilo partem de "algumas pessoas no Brasil que se acham donas do mundo". Segundo o ministro, "um desses pretensos donos do mundo (referência ao presidente da Fiesp, Carlos Eduardo Moreira Ferreira) disse assim: 'Nós não apoiamos o Ciro, nós apoiamos o Plano Real'. Ele foi dizendo assim, umas quatro (vezes). Eu aguento quatro, e aí na quinta declaração eu respondi, dizendo que quero o apoio da população".
O ministro negou as notícias de divergências entre ele e integrantes da equipe econômica. Disse que a última avaliação da equipe sobre as medidas de arrocho ao crédito, feita na terça-feira, já indica bons resultados, mas que o monitoramento deve durar até que seja possível uma avaliação definitiva.
O ministro atribuiu a fatores sazonais o aumento de 8,56% em outubro no custo da cesta básica em São Paulo, mas disse que a equipe está atenta às expectativas inflacionárias.
"O que não se pode permitir é isto. Subiu a cesta básica em São Paulo, então vamos subir o aluguel no Acre, subir a tarifa de ônibus em Fortaleza, que é um vício da indexação que não tem nada a ver. Isto é que nós vamos lutar para não acontecer", disse.
Perguntado se a alta da cesta serviria para desencadear movimentos especulativos, respondeu: "não, de jeito nenhum". Em seguida, bateu no peito, sorrindo, e disse:"Ó aqui ó, o xerife".
O ministro disse também que o setor privado brasileiro suporta um aumento no salário mínimo, mas que a vinculação do mínimo às aposentadorias e à folha de pagamento dos Estados e municípios cria dificuldades para o reajuste.
Recusando-se a dizer qual, Ciro criticou um banco que, segundo ele, "entrou na Justiça para quebrar o Plano Real pedindo atualização (monetária) de 40% como se a inflação de julho fosse 40%".
E ameaçou "se este banco não tirar isto, eu vou contar o nome".
Em Maringá, disse que a restrição ao crédito, adotado pelo governo, foi um "remédio amargo, porém necessário".
O presidente da Febraban (que reúne as associações de bancos), Alcides Tápias, não quis comentar as declarações de Ciro.
Por intermédio da assessoria, negou que a Febraban teria distribuído circular aconselhando os bancos a ajuizarem ações na Justiça contra o artigo 38 da lei 8.880/94, que estabeleceu novas regras para a correção monetária a partir de julho.
A Febraban diz limitar-se a informar seus associados sobre as decisões judiciais sobre o assunto, sem fornecer orientação.
O diretor de um banco, que pediu para não ser identificado, disse que as instituições financeiras "vão ficar com as barbas de molho até passar o 'ciroteio"', referindo-se ao tiroteio verbal do ministro.
Colaborou a Reportagem Local.

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