São Paulo, sexta-feira, 4 de novembro de 1994
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O abacaxi do general

JANIO DE FREITAS

JÂNIO DE FREITAS

Na área residencial do Forte São João, um paraíso verde estritamente verde-oliva, o general Câmara Senna protege-se e à sua família –aliás, em um dos prédios ali erguidos pelo Exército ilegalmente, em desrespeito às leis do solo, dos gabaritos, da proteção ambiental e ferindo o panorama único do Pão de Açúcar. Mas nem ali o general tem como se proteger de outra ameaça que já o circunda: a ação de supostos aliados seus.
O convênio de colaboração federal-fluminense frustrou, mas não fez desistirem, os setores do Judiciário, da polícia, da política estadual e dos meios de comunicação que queriam o estado de defesa ou a intervenção. Suas motivações são diferentes, mas o objetivo é o mesmo: o afastamento de Nilo Batista para derrubar o PDT do governo. Nas diferentes motivações há ambição política, jogo, negociatas, ódio a Brizola e vingança por inquéritos e punições na polícia.
Fracassada a tentativa de obter ação extremada do governo federal (foi a segunda tentativa, em seis meses, de afastar Nilo Batista), já começaram as artimanhas para envenenar a colaboração federal-fluminense. É um jogo cruel, que despreza os interesses da sociedade, e muito perigoso.
Sem a colaboração, não há possibilidade de êxito, nem no menor grau, contra a violência decorrente do tráfico e consumo de drogas. O insucesso da colaboração não significará, porém, que o desdobramento seja, necessariamente, a intervenção. É improvável que o presidente em fim de mandato adote decisão tão extremada e cheia de riscos. E o futuro presidente, como dizia ontem mesmo, não é adepto de ação federal extremada, percebendo bem os perigos, constitucionais e institucionais, implícitos no envolvimento maior dos militares com o problema.
Além da competência técnica, portanto, o êxito do general Câmara Senna estará dependendo também da sua percepção e habilidade para ignorar ou contornar as artimanhas envenenadoras, que já estão por aí, incipientes. Se lhe faltar esta segunda capacidade, a primeira de nada adiantará. O abacaxi que esse general pegou é do tamanho de uma safra inteira.
Primeira parte
O bem disseminado noticiário sobre agentes militares há tempos infiltrados nas favelas e outras zonas problemáticas, daí resultando o conhecimento do banditismo, não tem boas relações com a veracidade. As informações dos militares são provenientes do comando e do serviço secreto da PM, estes, sim, há longo tempo dedicados ao levantamento minucioso dos vários aspectos da violência bandida no Rio.
As tais notícias são distribuídas por militares como elementos de guerra psicológica, que eles consideram ser já a primeira parte da operação no Rio.

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