São Paulo, sexta-feira, 4 de novembro de 1994
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Brasil e Argentina, sócios na prosperidade

ALIETO ALDO GUADAGNI

Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente do Brasil com uma votação popular sem antecedentes por sua magnitude –54,3% dos votos válidos. Assim, está assegurado o indispensável apoio político para a continuidade e consolidação do Plano Real, posto em andamento pelo governo Itamar Franco, baixo a inspiração do hoje presidente eleito e antes ministro da Fazenda.
Este ordenamento macroeconômico do Brasil assegura um período prolongado de crescimento econômico com taxas anuais entre 6% e 7%. O Brasil foi o país que mais cresceu no mundo nos 80 primeiros anos do século e voltará a crescer com sua tradicional vitalidade, frustrada até pouco tempo pela altíssima inflação e pelas sequelas da crise da dívida de 1982.
Este novo ciclo de crescimento brasileiro estará também revigorado pela recuperação econômica dos principais países industrializados (Japão, Alemanha e EUA). Destaquemos que a prevista expansão da demanda brasileira ocorre depois de substancial abertura comercial (governo Collor), com impostos que, em média, caíram de mais de 50% a menos de 14%, em poucos anos.
Em 1992, as importações brasileiras apenas chegavam a US$ 20 bilhões; este ano superarão os US$ 30 bilhões, porém, já o valor anualizado do último trimestre chegará aos US$ 10 bilhões. O Brasil avança rumo a um nível de importações na ordem dos US$ 60 bilhões, valor altamente alcançável, já que representa apenas 10% do PIB, como foi recentemente sinalizado pelas autoridades econômicas.
O forte superávit comercial que o Brasil ainda possui (mais de US$ 1 bilhão mensais), somados a um substancial fluxo de ingressos de capitais, reforçado por novas circunstâncias políticas e a atração de seu mercado de capitais, aponta na manutenção firme de uma fase cambiária, caracterizada pela apreciação de real, situação típica de muitos processos de estabilização.
Como se vê, estamos na presença de um ciclo novo, onde as importações crescerão não somente pela expansão global do Brasil, como também, pela nova relação de paridade monetária. Porém, o que é realmente importante é que ambos os fenômenos simultâneos não são transitórios e estão para ficar.
Por estas razões, não se deve surpreender que as exportações argentinas estejam alcançando níveis recordes, como os US$ 312 milhões registrados no último mês de agosto. Os próximos meses mostrarão valores crescentemente superiores, sendo previsível esperar o início de um período de superávits comerciais argentinos já a partir do mês de dezembro, situação que não ocorria desde meados do ano 1991.
Devemos destacar que a política exterior argentina assumiu como hipótese central de seu planejamento estratégico frente ao Mercosul que o Brasil retomaria seu caminho de crescimento, por corresponder muito mais à sua vocação histórica que o transitório interregno de estancamento, associado com a crise da dívida.
Não é menor a contribuição que esta acertada opção de nossa política exterior oferece para a consolidação do crescimento com estabilidade, características essenciais do exitoso programa econômico implantado pelo governo da Argentina.
A Argentina superou a etapa necessária, porém incompleta, de sua abertura unilateral. Com sua estratégia de integração, agora, triplica seu próprio mercado "interno", o qual implica multiplicar as oportunidades para novas inversões produtivas que gerarão emprego e expandirão as exportações.
Ao mesmo tempo, será possível superar a retração das economias regionais, que hoje enfrentam novas possibilidades oferecidas pelo Mercosul, que absorverá fluidamente uma grande gama de produções que refletem variedades de clima e de recursos naturais.
O Tratado de Assunção assegura ingresso livre às nossas exportações ao Brasil, o qual coloca na "pole position" os produtores argentinos que ofereçam qualidade e preço. A Argentina abastece como segundo vendedor apenas 10% das importações brasileiras.
Nossos principais competidores neste mercado (EUA, Alemanha, Japão, Itália, França e Reino Unido), enfrentam impostos plenos, já que não gozam de preferências negociadas como a Argentina. A preferência Mercosul oferece grandes possibilidades de aumento às nossas exportações, não somente pelo incremento das importações brasileiras, como também pelo aproveitamento deste grande potencial de substituição de provedor.
As condições estão dadas, as expectativas são favoráveis, e cabe esperar que nossos produtos ocupem no Brasil o lugar que lhes corresponde como sócios no Mercosul.
Tudo isto requer inelutavelmente inversões para expandir nossa oferta exportável. Estas inversões, porém, são de muito baixo risco, já que tendem a aproveitar oportunidades que estão se multiplicando de maneira acelerada.
Este prognóstico se refere a uma eventualidade conjuntural ou define o começo de um período marcado por aumentos mantidos das exportações argentinas e consequentes saldos comerciais positivos? A resposta a esta interrogação é essencial para o planejamento estratégico das inversões orientadas a expandir nossa produção exportável, que deve estar atenta aos novos sinais do mercado, porém, ademais, ter a certeza de que as mesmas são permanentes e não erráticas.
Nossa apreciação é que a Argentina enfrenta em seu relacionamento comercial com o Brasil uma nova circunstância altamente favorável. Vemos hoje apenas o começo de um prolongado ciclo. A estreita vinculação política nos últimos anos assegura que o Brasil e a Argentina estarão associados nesta nova prosperidade.

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