São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
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Oposição a ACM reúne do PPR ao PT

CARLOS EDUARDO ALVES
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

O estilo "trator" do senador eleito Antônio Carlos Magalhães (PFL), referendado no primeiro turno da eleição baiana, uniu do PPR ao PT em torno da candidatura de João Durval Carneiro (PMN), 65, na sucessão estadual.
João Durval é filho político do carlismo, como os baianos chamam a corrente liderada por ACM. Foi governador de 1983 a 1987 graças ao apoio do seu hoje inimigo e, durante duas décadas, privou da intimidade de ACM.
Na última pesquisa do Datafolha, Durval aparece com 32% das intenções de voto, contra 51% de Paulo Souto (PFL), 50, o candidato de Antônio Carlos.
Ex-governador, ACM conseguiu no primeiro turno tornar-se o senador mais votado na Bahia, eleger a maior parte das bancadas estadual e federal da Bahia.
O triunfo maior de ACM, no entanto, foi fazer de seu ex-secretário Waldeck Ornelas (PFL) o segundo senador eleito no Estado, derrotando Waldir Pires (PSDB), o mais conhecido dos adversários do líder pefelista na Bahia.
A eleição de Ornelas foi colocada sob suspeição por Waldir, que tenta na Justiça provar que foi vítima de fraude. A disputa na Bahia, aliás, é marcada por denúncias de todo o tipo.
Acusações
ACM chama João Durval de "ladrão". Do outro lado, Waldir, que apóia agora seu ex-adversário Durval, diz que o senador eleito "administra uma oligarquia atrasada com chicote e corrupção".
A discussão maior da campanha é sobre o uso político da TV Bahia, de propriedade de ACM e retransmissora na Bahia da programação da Rede Globo.
Líder disparada de audiência, a TV Bahia veiculou desde o início da campanha em seus noticiários uma indisfarçada preferência pela candidatura de Souto.
ACM responde que as outras emissoras de TV pertencem a adversários políticos, como Pedro Irujo (PMDB) e Nilo Coelho (PMDB).
A vitória do grupo de ACM no primeiro turno assustou os adversários. Durval se apresenta como representante das "forças progressistas" da Bahia. Tem apoio que vai do deputado federal José Lourenço (PPR) até a participação formal do PT em sua campanha.
"A verdade é que também fui ajudado pela administração incompetente de Waldir e o governo desonesto de Nilo Coelho", provoca ACM ao comentar o massacre eleitoral que patrocina na Bahia.
No palanque de Durval, um fazendeiro com jeito de sertanejo calmo que conseguiu reunir dissidentes do carlismo, estão os principais candidatos derrotados na disputa para governador no primeiro turno –Jutahy Magalhães Jr. (PSDB) e Nilo Coelho.
"Não tenho outra alternativa a não ser apoiar João Durval porque o mal maior é o carlismo", diz Waldir Pires. "A população não está aceitando esse acerto de cúpula", responde Paulo Souto.
No primeiro turno, o candidato de ACM conseguiu vencer até em Salvador, um velho reduto da esquerda baiana.
A aposta da quase unanimidade dos políticos locais é que, se confirmar a vitória de Souto no segundo turno, ACM tem chances imensas de, na eleição de 1996, levar um nome de seu grupo à prefeitura da capital, hoje administrada por Lídice da Mata, da ala esquerda do PSDB.
Apoiado pelos grandes grupos econômicos locais, ACM, reconhecem os próprios adversários em conversas reservadas, conseguiu nos últimos anos consolidar uma imagem favorável na maioria da população baiana.
A grande discussão na oposição é se o avanço do chefe nacional do PFL deve-se somente à inegável influência que tem nos mais expressivos meios de comunicação do Estado ou, também, a falhas administrativas mostradas por seus concorrentes nos
raros momentos em que ACM afastou-se do poder local.

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