São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Assassinatos são rotina em Capão Redondo

ANDRÉ MUGGIATI
DA REPORTAGEM LOCAL

No bairro mais violento de São Paulo, o Capão Redondo, a violência é corriqueira. Um assassinato pode acontecer por uma discussão de vizinhos ou briga de bar.
"As pessoas matam o vizinho porque ele está construindo a casa usando o muro da divisão dos terrenos", diz o delegado Luiz Antônio Rebello, titular do 47º DP.
O bairro, formado por 68 vilas e jardins, é o campeão de homicídios da cidade, com 204 assassinatos entre janeiro e setembro. Para Rebello, a região é tão violenta quanto qualquer parte do Rio.
A diferença, segundo o delegado, é que a criminalidade no Capão Redondo não é organizada. Para ele, os motivos do alto número de homicídios são o baixo poder aquisitivo, a falta de opções de lazer, o alcoolismo e o fato de as pessoas andarem armadas.
A média de homicídios no Capão Redondo é crescente. Em janeiro de 93, eram 10,4 por mês. Em abril de 94, a média era de 21. "E vai aumentar mais", afirma o delegado Rebello.
Foram ao todo 165 homicídios em 93. Em 94, até setembro, ocorreram 204 assassinatos. Foram 19 em julho, 15 em agosto e 18 em setembro.
As ocorrências registradas na delegacia durante o feriado de finados demonstram a violência. Foram dois homicídios, uma tentativa de homicídio e quatro agressões a tiros. Tiros abaixo da cintura são considerados agressões a tiros e não tentativas de homicídio.
Em um dos homicídios, uma mulher teve o corpo incendiado. No outro, um rapaz levou vários tiros. Além disso, houve uma rebelião na cadeia do DP, que conta com cem presos para cinco celas de dez metros quadrados cada.
Por volta das 13h os presos tentaram uma fuga. Frustrada a tentativa, iniciaram tumultos nas celas. A situação foi controlada às 23h.
Segundo a delegada assistente Vanda Sueli Bossan, a população do Capão Redondo compra armas para se defender. Para ela, é a combinação deste fator com o alcoolismo que leva ao homicídio. "Não há a intenção premeditada de matar. O homicídio é um crime passional, movido pela emoção."
A delegada faz plantões noturnos no 47.º DP, acompanhada de um investigador, um escrivão e um carcereiro. De acordo com ela, são frequentes os telefonemas à delegacia afirmando que haverá um resgate dos presos.

Texto Anterior: Dona Neuma apóia ação em favela
Próximo Texto: Polícia busca suspeitos de ligação com o CV
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.