São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
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Bolsa aguarda definições do futuro governo

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com raras exceções, os analistas do mercado de ações prevêem um cenário desanimador para o investidor no último trimestre do ano, caso não ocorra algum fato novo capaz de reverter o quadro atual.
Desde a vitória de Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno da eleição presidencial, o índice da principal Bolsa de Valores brasileira –Bovespa– acumula uma baixa de 14,91%.
A alta de 3,51% de sexta-feira passada foi encarada com ceticismo, até porque o volume de negócios, de R$ 199 milhões, foi considerado irrisório. "É a metade do que era negociado em agosto passado", observa Florian Bartunek, diretor do Banco Pactual.
O principal motivo desse aparente paradoxo foi a aposta errada que os investidores brasileiros fizeram, ao comprar ações a preços cada vez mais caros, esperando vendê-las com bons lucros a investidores estrangeiros supostamente ávidos por papéis de empresas brasileiras, principalmente os das estatais –Telebrás, Eletrobrás, Vale do Rio Doce e Petrobrás.
Isso não ocorreu. "Apesar de interessado nas ações brasileiras, o investidor estrangeiro está aguardando a posse de FHC e as primeiras medidas do novo governo", afirma Alexandre Assis, diretor da subsidiária brasileira da corretora norte-americana Merrill Lynch.
O Índice Bovespa despencou em queda livre dos 54.840 até os 43.440 pontos entre os dias 4 e 21 de outubro, com uma desvalorização de 20,79% nesse período.
Depois disso, os preços ensaiaram uma recuperação nos quatro pregões seguintes, mas voltaram a despencar.
O Índice Bovespa fechou o mês passado com uma perda de 12,51% e encerrou a primeira semana de novembro no cabalístico número de 46.666 pontos, com baixa de mais 2,74%.
Durante o mês de outubro, vários outros fatores negativos foram se conjugando para manter o investidor estrangeiro afastado das Bolsas brasileiras, diz o analista sênior do Banco Santander, Gustavo Campos Neto.
Nos dias 20 e 21, o governo baixou uma série de medidas restritivas ao capital estrangeiro –incluindo o IOF de 1%– e ao crédito bancário.
A isso se somaram as expectativas –sancionadas pelo Banco Central com a elevação dos juros no início do mês– de que a inflação de novembro será maior do que a de outubro, aumentando as pressões pela reindexação dos preços na economia, começando pelos salários.
A alta dos juros nos EUA completou a ducha de água fria sobre o ânimo dos estrangeiros.
O resultado foi que a participação do capital estrangeiro no movimento financeiro da Bolsa de Valores de São Paulo caiu de 24,6% em setembro para 21%.
Muitos analistas do mercado concordam que a retração do capital estrangeiro deu o primeiro empurrão na baixa das Bolsas.
Mas a sua magnitude teria sido ampliada com um movimento de reversão de posições das tesourarias dos bancos que atuavam como "financiadores" do mercado, comprando ações no mercado à vista e vendendo "derivativos" (opções da Telebrás e contratos futuros do Índice Bovespa).
Nos vencimentos desses contratos em outubro, muitos desses bancos sofreram pesados prejuízos e o aperto de liquidez resultante das medidas de contenção do crédito e do compulsório de 15% sobre empréstimos estaria obrigando-os a vender papéis à vista e recomprar os contratos de opções e de índice futuro.
As instituições financeiras movimentam 40% do volume de negócios da Bovespa.
Há analistas que continuam apostando em ações de empresas privadas, classificadas na categoria de "segunda linha nobre".
Júlio Krauspenhar, diretor de investimentos do Banco Fibra, chama a atenção para os excelentes lucros das empresas nos balanços do terceiro trimestre. "Nunca vi os preços das ações ficarem descoladas muito tempo dos lucros em nenhuma Bolsa do mundo".
Sua avaliação é compartilhada por Jair Ribeiro da Silva Neto, diretor do Banco Patrimônio, associado à corretora norte-americana Salomon Brothers.
Ele acredita também numa realocação dos recursos de investidores estrangeiros, que tendem a migrar de outros países emergentes, como México e Argentina, para o Brasil, que está numa situação mais favorável.

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