São Paulo, segunda-feira, 7 de novembro de 1994
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Palmeiras perde timão e fica nu de repente

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Bem, agora a coisa começa a ficar séria. A sequência de vitórias apertadas e empates, seguida da quebra de invencibilidade, tudo isso ainda fazia parte do roteiro que prenunciava claramente a conquista final do bi pelo Palmeiras. Mas a rateada diante do São Paulo, que, por pouco não sai vitorioso de campo, e a derrota para o Guarani, embora o verdão já esteja classificado para a próxima fase, soam após a goleada sofrida no Maracanã, para o Flu, como um aviso sombrio do que o destino pode estar tramando contra o campeão brasileiro.
Pegue-se como exemplo a goleada do Sport sobre o tricolor ainda outro dia. Foi um placar indiscutível e humilhante para um time que ainda ostenta o título de bicampeão mundial. Mas esse resultado foi construído num jogo frenético, em que os dois times se atiraram ao ataque, criaram oportunidades e os pernambucanos simplesmente estavam em noite iluminada.
Fizeram cinco gols, como poderiam ter feito oito. Assim como o tricolor poderia ter marcado mais uns dois ou três, pelas chances desperdiçadas.
Sábado, no Maracanã, não. O jogo transcorreu num ritmo de balada dos anos 50, em 33 rotações, e o Fluminense foi devorando o Palestra pelas beiradas, tranquilamente. Meteu 4 a 1 e ainda deixou o carimbo de duas bolas nas traves alviverdes. Este é que parece ter-se enredado numa teia de imprecisões tal que o imobilizou como a mosca diante da aranha que avança lenta e inexoravelmente.
Tá bom: o Palmeiras jogou desfalcado de alguns titulares e perdeu logo no começo da partida sua maior estrela, para o bem ou para o mal –Edmundo. Sem Roberto Carlos, perdeu a força pela esquerda, setor jamais ocupado por ninguém do meio-campo ou ataque, embora tenha por ali dois canhotos natos: Zinho e Rivaldo.
Sem César Sampaio, um implacável vigia de sua zaga, simplesmente perdeu o rumo, como um navio que levanta âncora, sem ninguém no timão. É isso: César Sampaio é a âncora desse barco que dá sinais de adernar. E o timão era Mazinho, hoje no Valencia. Zinho, por mais útil que seja, não consegue conferir ao meio-campo a clarividência indispensável ao setor de criação de qualquer equipe, muito menos de um autêntico campeão como é esse Palmeiras. Mesmo porque Rivaldo, o substituto de Mazinho, ainda que venha aqui combater e possua respeitável habilidade, é, sobretudo, um jogador de conclusão.
Pode ser que tudo isso não passe de mera consequência da flagrante superioridade palestrina, traduzida em números tão cedo no campeonato que o espírito de campeão se evolou. Mas, também, pode ser que a turma já sacou o jeito de o Palmeiras jogar, acertou a marcação e até já começou a explorar as falhas do festejado vencedor. E, de repente, o rei ficou nu.

A polícia mostrou suas armas, os líderes das torcidas uniformizadas prometem depurar suas legiões dos maus-elementos, enquanto a imprensa enceta campanha contra a violência nos estádios. Pergunto: e os cartolas, o que fizeram até agora?
Qual clube veio a público anunciar que cortará sua ajuda financeira às uniformizadas etc e tal? É como se a coisa não fosse com eles. E só é.

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