São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
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Pacto da mediocridade

A educação é uma das maiores demandas da população, é um requisito fundamental do desenvolvimento e um direito constitucional. Mesmo assim, continua a ser um dos piores serviços do Estado. Em praticamente todo o Brasil, o desempenho da escola pública é fraco, para dizer o mínimo. No Estado de São Paulo, o excepcional número de faltas de professores –4 milhões em 1993!– apenas denuncia o pacto que permite a perpetuação da mediocridade.
Os professores fingem que ensinam diariamente e o poder público simula o justo pagamento das aulas. Os governantes declaram prioridade à educação, mas cortam verbas, pagam mal e relegam a administração. Os eleitores desejam um sistema educacional melhor, mas não fiscalizam seus eleitos e só raramente punem os que fizeram pouco-caso do ensino.
Dar prioridade à educação é uma mensagem que se repete a cada pesquisa de opinião. E, no entanto, o sistema continua a deteriorar-se. Os professores de São Paulo, que há 15 anos recebiam no mínimo o equivalente a R$ 855, hoje têm um piso salarial de R$ 144. Alegam motivo de doença para faltar dez vezes mais que os mineiros de carvão de Santa Catarina.
O caos administrativo serve de retaguarda a esse acordo informal de descompromissados. O número de matrículas supera o total da população em idade escolar em 300 mil. Estima-se, ademais, que um em cada cinco ou seis professores esteja em funções administrativas. Não há sequer dados precisos.
Como em quase todas as gravíssimas deficiências do setor público, o fisiologismo, o corporativismo e a ineficiência resultam em mau atendimento à população. Além do desrespeito ao cidadão, o descaso para com o sistema educacional compromete –e muito– o desenvolvimento do país.
Superar essa situação é um dos grandes desafios das novas administrações que se iniciarão em 1995. Não se trata apenas de reorganizar ou descentralizar o sistema educacional. O resgate do ensino de primeiro e segundo graus deve enfrentar os interesses que estão comodamente instalados na estrutura atual. É urgente romper o pacto da mediocridade.

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