São Paulo, quarta-feira, 9 de novembro de 1994
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Alô, Cyro Vidal! Vá tomar café no Senado!

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Prezado senhor Cyro Vidal,
Sei que o nobre diretor do Detran é uma pessoa atarefada, mas gostaria de tomar seu tempo para lhe contar um fato ocorrido comigo há anos.
Fui uma adolescente incontrolável, dessas termocéfalas que aprontam os diabos ao volante. Com pai e mãe ex-corredores de carro, isso não chega a ser surpresa. Mas fatores hormonais e genéticos não atenuam as besteiras que cometi no passado.
Pois bem. Ainda vivia os derradeiros resquícios de minha juventude rebelde em maio de 1981, quando colidi e capotei o carro na avenida Paulista. Na batida, fui atirada para fora do veículo pelo pára-brisa dianteiro, arrancando no percurso –com a cabeça– o espelho retrovisor.
Além de danos materiais a terceiros, tive de ser submetida a seis horas de cirurgia no rosto e amarguei meses deitada em uma cama.
Pior. Perdi 80% da visão de meu olho direito. Outros 15% de visão foram perdidos logo depois, com uma bolada de golfe no cocuruto, mas isso é uma outra história...
Na hora do acidente, eu não estava de cinto de segurança. Se estivesse, nada teria me acontecido.
Agora, eu lhe pergunto: por que, em vez de apoiá-la, o Detran perdeu tempo tentando barrar na Justiça a lei municipal que obriga o uso do cinto?
Porque a arrecadação ficaria para a prefeitura? Porque o aumento de multas complicaria a vida do Detran?
Justo quando o prefeito toma uma decisão acertada, que vem refazer sua imagem depois da desastrada tentativa de plantar, sem o conhecimento formal da população, 2 milhões de eucaliptos na cidade, o senhor resolve cortar a onda dele?
Sei que na formulação do Código Nacional de Trânsito, que tramita no Senado, o senhor lutou pelo uso obrigatório do cinto. Pois então. Em vez de perder tempo combatendo a iniciativa, por que o senhor não se uniu a Maluf? Não pega bem, o senhor há de convir, um órgão que fiscaliza a aplicação das leis de trânsito ser contra o uso do cinto. Seja qual for o motivo.
Em nome de jovens como a que eu fui, vá tomar um café no Senado. Vá lá fazer pressão para que essa lei entre em vigor o quanto antes. Em todo o território nacional.
Cordialmente,

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