São Paulo, quarta-feira, 9 de novembro de 1994
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Para autor, FHC superou 'ilusão populista'

DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Leia abaixo trecho da entrevista de Mario Vargas Llosa em que ele comenta suas semelhanças e diferenças com o presidente eleito Fernando Henrique Cardoso, com quem deve se avistar no Brasil em dezembro próximo.

Folha - Muita gente no Brasil tem apontado semelhanças entre a sua trajetória e a do presidente eleito Fernando Henrique Cardoso: ambos eram intelectuais respeitados antes de entrar na política, ambos têm uma formação humanista européia e querem "civilizar os trópicos", ambos transitaram da esquerda para o centro...
Vargas Llosa - Eu me alegrei muito com a vitória dele, porque é uma pessoa muito preparada intelectualmente.
É um homem que viveu as ilusões do populismo e da esquerda em sua juventude e que aprendeu a lição meridiana do que ocorreu nas últimas décadas, sobretudo na América Latina, e que agora está muito mais dentro de uma posição pragmática.
Tenho muita esperança em seu governo, pois o Brasil só está esperando um pouco de lucidez e de ordem para seguir adiante.
Folha - Que diferenças o sr. vê entre FHC e o sr.?
Llosa - Bem, creio que ele é melhor político que eu, sem nenhuma dúvida (risos).
Folha - Ele parece não abraçar o seu liberalismo radical.
Llosa - É verdade. Ele mantém posições mais social-democratas, mas em muitos casos essas diferenças hoje em dia são de semântica, não de políticas concretas.
Se ele está, como tem demonstrado, a favor de políticas de mercado, contra o dirigismo estatal na economia, se aceita que a internacionalização dos mercados é fundamental para que os países pobres deixem de sê-lo, estamos de acordo no fundamental.
Além disso, ambos acreditamos que a democracia política é o marco dentro do qual há que se dar a batalha contra o subdesenvolvimento. Agora, a discussão é: até onde deve ir a privatização?
Para mim, ela deve ir até o final. Quanto menos setor público exista, é melhor para que um país esteja em condições de travar a luta pela riqueza. Isso encontra uma grande resistência em um "marco moral", como diria Karl Popper: uma cultura nacional, uma certa tradição que se impõe, então há que andar de maneira cautelosa.
Folha - Dizem que FHC leu seu livro para não cometer os mesmos erros (risos). Se o sr. tivesse que dar um conselho a ele, qual seria?
Llosa - Não estou em condições de lhe dar conselho algum. Afinal, ele é um vitorioso, e minha ação política resultou em fracasso.

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