São Paulo, sexta-feira, 11 de novembro de 1994
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O Brasil e o novo governo

NEWTON CAVALIERI

Abertas as urnas e auferida a vontade dos eleitores, Fernando Henrique Cardoso é o novo presidente do Brasil. Eleito sob o compromisso de efetivar as profundas reformas de que o país necessita para retomar a trilha do desenvolvimento com justiça social, o festejado sociólogo e intelectual internacionalmente reputado tem diante de si tarefa das mais difíceis, tal a situação em que se encontram sociedade e Estado.
Aquela, embora de invejável predisposição para enfrentar desafios com garra e criatividade, perdida diante da ausência de rumos e diretrizes; este, gigantesco e deformado por vícios imemoriais, há muito não dispõe de respostas efetivas às necessidades e anseios da primeira.
Vivemos um momento no qual se faz necessária profunda reflexão sobre o que somos e o que pretendemos ser. Parte inicial dessa equação parece ter começado a ser resolvida a partir destas eleições.
O povo brasileiro optou por uma proposta de modernização e moralização da estrutura estatal, que passa inevitavelmente pelo enxugamento da máquina burocrática, pela transparência dos negócios oficiais e pela recondução da sociedade às suas reais dimensões de sujeito da história econômica e não mais mero coadjuvante.
São várias as lições que ficam dessa opção democrática. A arrumação da casa, primordial desde a primeira hora, não pode prescindir nem postergar medidas de reaparelhamento do Estado para que exerça as funções básicas para as quais existe. Privilegiar uma em função de outra é incorrer em erro grave, passível de reverter em maiores sacrifícios para a população. A partir dessa constatação, uma pergunta se impõe.
Tem o presidente eleito condições de levar a cabo missões tão complexas sem a participação da maioria dos segmentos sociais, sem contar com o Congresso, forças produtivas, Judiciário mais atuante, imprensa, enfim, as diversas parcelas que formam a sociedade brasileira? A resposta também parece clara e remete a uma conclusão que pode ser a chave do enigma em que se transformou o Brasil de hoje.
A hora é de um governo de conciliação nacional, no qual velhas e gastas ideologias têm forçosamente de dar lugar a um projeto coletivo de crescimento, de amadurecimento do ponto de vista da integração social e do combate à miséria e disparidades regionais que tanto infelicitam o Brasil e são o nó górdio que nos tolhe a todos. Temos navegado, ao largo das últimas décadas, sem norte e sem rumo; ainda assim fomos capazes de gratas e brilhantes realizações.
Com um projeto amplo, obtido através do consenso até onde ele for possível, nada impedirá que possamos encontrar a rota que até agora tem nos faltado.
O presidente eleito, pela estatura intelectual e visão abrangente de sociólogo, em hipótese alguma poderá falhar na tarefa que milhões de brasileiros acabam de lhe confiar. Desde que, o exercício da cidadania agora iniciado não se esgote, mas permaneça atuante na cobrança de decisões, de reformas e de agilização da máquina do Estado, dentro dos pressupostos da mais absoluta transparência e fidelidade às reais necessidades da nação.
A luta será difícil, mas a vitória não é impossível nem tão remota quanto pensam os mais céticos. Com a ajuda de Deus o Brasil entrará em processo de desenvolvimento, com geração de empregos, ingressando, finalmente, no sonhado círculo dos países do Primeiro Mundo.

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