São Paulo, domingo, 13 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Covas quer parceria com empresas para fazer obras de infra-estrutura

DA REDAÇÃO

O candidato Mário Covas (PSDB) afirma que pretende, se eleito, propor parcerias a empresas para recuperar estradas e estações de tratamento de água.
Defende autonomia financeira e pedagógica para as escolas e quer que o governo de São Paulo entre na "guerra de tarifas" com outros Estados para atrair novas indústrias. A seguir, as principais propostas do candidato.
EDUCAÇÃO
Mário Covas afirma que o problema não é colocar criança na escola, mas mantê-las lá. Diz que em São Paulo 100% das crianças têm vaga, mas cerca de 1,5 milhão delas anualmente saem da escola ou repetem de ano, o que significa gasto sem proveito de US$ 350 milhões por ano.
Pretende concentrar esforços no ensino de primeiro grau porque diz que o Estado tem três das maiores universidades do Brasil. A discussão básica para ele é saber por que o pobre não chega à escola superior.
Afirma que a Secretaria de Educação tem muito pouco conhecimento do que ela própria é. Em 91, o Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados e Estatísticas), que é um órgão do Estado, antecipando os dados do Censo de 91, dizia que havia em São Paulo 4 milhões de crianças na faixa entre 7 e 12 anos, enquanto a Secretaria de Educação dizia que havia 4,2 milhões crianças matriculadas.
Uma diferença de 200 mil crianças, que representam cerca de 6.000 salas de aula e, portanto, 500 escolas. Se alguém se pautou por esse número para construir escolas, muito provavelmente tirou o valor das escolas do salário do professor.
AUTONOMIA ESCOLAR
A Secretaria de Educação tem que ser um órgão extremamente flexível, pequeno, formulador de política e fixador de diretrizes. Tem que se dar autonomia financeira e administrativa para as escolas. Afirma que cada uma deve ter até gestor pedagógico.
É preciso criar critérios de avaliação. Dar prerrogativas e ao mesmo tempo medir responsabilidades. A escola precisa oferecer ao professor salário, reciclagem, preparo e consideração.
AGRICULTURA
Para o tucano, a agricultura precisa de, pelo menos, cinco providências: projeto de irrigação; projeto de microbacias; projeto de eletrificação rural –60% das propriedades rurais ainda não são eletrificadas- ao qual pode ser associado um projeto de telefonia.
REFORMA DO ESTADO
Segundo Covas, é preciso fazer um censo do funcionalismo e convocar os servidores para seus lugares de origem. Para ele, eliminar o empreguismo é fácil, basta seguir regras preestabelecidas daqui por diante. O difícil, afirma, é consertar o que já foi feito. Há dificuldades como a estabilidade, garantida constitucionalmente. Os compromissos públicos do Estado permanecem mas a gestão tem que adquirir parâmetros da administração privada.
SAÚDE
Diz que no Brasil, só se fala de cura, não de prevenção. Uma forma de prevenção é a informação e a educação. A proposta do partido para a saúde tem um desenvolvimento hierárquico: antes de fazer um hospital novo é preciso fazer funcionar por inteiro o hospital que já existe. Com o sistema funcionando bem, a segunda etapa é terminar aqueles que estão parados no meio do caminho. DESEMPREGO
Afirma que o problema do desemprego hoje é estrutural. São Paulo já respondeu por 42% do PIB, hoje está respondendo por cerca de 36%, portanto, perdeu seis pontos percentuais, o que significa 14% do total. Os outros Estados cresceram e em parte cresceram às custas de São Paulo. Isso tudo decorreu de disputas, em geral, na área tributária. É preciso entrar nessa disputa tarifária, na avaliação do tucano. Diz que São Paulo tem vocação para ser o comando financeiro do Mercosul.
Um dos pontos da proposta do PSDB é um grande projeto de irrigação, que aumenta a produção e a produtividade. Em São Paulo, uma área de três hectares dá um emprego em lavoura. Essa mesma área irrigada passa a dar cinco empregos, segundo Covas. MICROEMPRESA
Avalia que, no mundo inteiro hoje, quem dá emprego é a pequena e a microempresa, que no Brasil deve ser responsável por entre 70% e 75% da mão-de-obra empregada. Diz que, sem gastar um tostão a mais, o Estado pode direcionar parte das suas compras para a pequena e a microempresa.
Em certas áreas de tecnologia de ponta, como Campinas, São José dos Campos e São Carlos, é possível desenvolver os chamados projetos de incubadora, válidos para uma determinada área do Estado, mas não para todas.
INFORMÁTICA
Afirma que quanto mais a administração for informatizada mais o objetivo básico de justiça e de participação democrática será atingido. O Estado tem um papel a desempenhar na ampliação de seu uso, que leva em conta a possibilidade de que o financiamento possa ter como contrapartida o serviço prestado à cidadania. O Estado financia o profissional liberal e recebe como pagamento serviço prestado ao cidadão. PORTO DE SANTOS
Diz que, mesmo que quisesse, não poderia privatizar o porto de Santos, que é de responsabilidade da União. Afirma que em Santos o embarque da tonelada de soja deve custar mais do que no porto de Roterdã (Holanda).
A produtividade é baixíssima parte por culpa da mão-de-obra, parte por culpa da obsolescência. Ainda se trabalha no porto de Santos com guindastes de 1904. O que o governador pode fazer é intermediar a negociação entre trabalhadores e empresários, declara.
PRIVATIZAÇÃO
Diz que o Banespa é um órgão que tem um funcionalismo bem-estruturado, que dá mais financiamento para a agricultura no Estado do que o Banco do Brasil. Afirma não ver inconveniente que o Estado tenha um banco. O governo tem que fazer uma administração profissionalizada em contrato de gestão.
O erro está em fazer da Nossa Caixa e do Banespa dois concorrentes com o mesmo objetivo, declara. A Nossa Caixa opera com depósitos de longo prazo, como caderneta de poupança, e tem que direcionar sua ação para aplicações de longo prazo. Diz que não pretende fundir os dois bancos e, mesmo que pretendesse, acredita que haveria problemas operacionais para que essa fusão ocorresse.
A Cesp (Companhia Energética do Estado de São Paulo) tem um conjunto de empresas hidrelétricas que produzem energia na base de US$ 20 por quilowatt/hora. Está construindo seis outras que, se ficarem prontas num cronograma inflexível daqui para a frente, vão produzir o quilowatt/hora a US$ 80. E tem um projeto para fazer mais 14. Diz que a proposta é inviável. O caminho lógico, na visão de Covas, é aproveitar o gás natural.
PARCERIAS
Pode-se fazer associações com a iniciativa privada, afirma Covas. A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) pode dar uma estação de tratamento de esgoto que necessita de um pequeno investimento e a empresa fica com a contrapartida da tarifa. Por exemplo, para se fazer a outra pista da rodovia dos Imigrantes, pode-se dar a concessão da estrada por algum tempo –dez anos– e no pedágio o cidadão paga a estrada e a manutenção do sistema durante um certo período. É uma solução para certas prioridades, como a duplicação da Raposo Tavares, pelo menos dentro de São Paulo e Sorocaba, e da via Dutra, que já esgotou sua potencialidade.
Afirma que usaria privatizações feitas agora para liquidar a dívida do Estado com o Banespa.
ASSENTAMENTOS
Segundo Covas, quando se fez reforma agrária no Chile, o custo por assentamento foi da ordem de US$ 20 mil por família. Primeiro, é preciso cooperativar os assentados. Segundo, criar sistema de cooperativa que permita que a escola exista, que o posto de assistência médica exista.
Reforma agrária é a distribuição de terra e a fixação da pessoa na terra, que só se faz se for garantido um mínimo de insumos adequados. Isso é fator de geração de emprego.
RELIGIÃO
Covas afirma acreditar que Deus existe. "Fui batizado, estudei em colégio de padres, de forma que a minha formação é católica, embora eu pessoalmente acredite no espiritualismo. Isso não me impede de praticar a religião católica.'

Texto Anterior: Candidatos debatem propostas com leitores
Próximo Texto: Da Reportagem Local
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.