São Paulo, terça-feira, 15 de novembro de 1994
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Preços têm diferença de até 267%

NEIVALDO JOSÉ GERALDO
DA REDAÇÃO

Quatro meses e meio de Plano Real ainda não foram suficientes para liquidar com uma das principais heranças da inflação galopante: a dispersão de preços, que chega a 267,88% (caso do palmito), segundo o Datafolha.
Dispersão é o nome com o qual os economistas batizaram aquelas diferenças de preços entre produtos iguais que deixavam e continuam deixando o consumidor enlouquecido. As discrepâncias ocorriam quando a inflação batia nos 50% ao mês e se mantêm até hoje, agora com taxas inflacionárias mensais de 3%.
Houve, é verdade, uma relativa redução de patamar máximo, desde a entrada do Plano Real. Em 1º de julho, a diferença de preços da pimenta do reino nos supermercados chegava a 440% e a do palmito, a 390,68%.
Mesmo assim as variações ainda são muito grandes (veja alguns exemplos na tabela ao lado) quando se pensa em economia estável.
O presidente em exercício da Associação Paulista dos Supermercados, Firmino Rodrigues Alves, classifica as diferenças de "absurdas", mas confessa não saber como explicar o "fenômeno".
O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe, Juarez Rizzieri, diz que a dispersão é normal quando a inflação é alta e que o país ainda está "engatinhando no processo de estabilização".
O consumidor não entende como é possível, por exemplo, comprar em um supermercado um vidro de palmito com 300 g por R$ 6,07 e em outra loja compar por R$ 1,65 o mesmo produto.
A diferença, no caso do exemplo, do mais caro para o mais barato, é de 267,88%. Ou seja, pelo preço pago na primeira loja é possível comprar pouco mais de três vidros e meio do mesmo palmito na segunda loja.
Pesquisa Datafolha de preços realizada semanalmente em 18 supermercados e 18 hipermercados de São Paulo detecta este tipo de diferença. São 96 itens pesquisados nos setores de alimentos, higiene e beleza e artigos de limpeza. Em quase todos há grandes variações de preços.
Até o pão francês tem diferenças altas, chegando a 133,33%. Há preços para todos os gostos. Pode se comprar o tradicional pãozinho tanto por R$ 0,03 quanto por R$ 0,07.
Firmino Rodrigues Alves, que está há 30 anos no negócio de supermercados, afirma: "Nos tempos de inflação alta, as diferenças até se justificavam, pois as empresas giravam rápido os seus estoques e ganhavam a diferença no mercado financeiro".
Segundo ele, hoje os preços dos fornecedores não chegam a variar mais de 2% de um cliente para o outro. "Às vezes, observando ofertas em páginas de anúncios de jornais, chego a me espantar ao ver alguns preços", diz.
Juarez Rizzieri, da Fipe, afirma que dois motivos podem explicar estas diferenças:
1) o consumidor ainda não tem uma memória cristalizada para preços. Ele não consegue ter um valor de referência para produtos de pequeno custo unitário, como a maior parte dos itens de supermercados;
2) estratégia dos supermercados que fazem pesquisas constantemente junto aos seus concorrentes para saber quais produtos estão com um preço na média e aí jogam para baixo os preços de alguns itens.
Ele ressalta também que nos países de economia estável, diferenças menores ocorrem há muito tempo. "No Brasil, estamos tentando estabilizar agora e nem sabemos se dará certo o processo", diz.
Para Rizzieri, as diferenças de preços não deveriam oscilar mais do que 10%. Ou "20% no limite".
Já Firmino diz que uma diferença de até 30% seria aceitável. "Numa guerra de promoções como a que vai ocorrer este mês nos supermercados, por causa dos feriados e dos aniversários de oito redes, poderia chegar a 60%, mas com variações de 267% não dá para concordar", diz.

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