São Paulo, terça-feira, 15 de novembro de 1994
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Mercado de câmbio tem déficit de US$ 155 milhões

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de câmbio acumulou um déficit de US$ 155 milhões nas operações comerciais dos primeiros 11 dias deste mês, quando as exportações movimentaram US$ 982 milhões e as importações US$ 1,137 bilhão.
O saldo cambial desse período, porém, se mantém positivo em US$ 176,5 milhões, por conta do superávit de US$ 331,5 milhões nas transações financeiras, nas quais houve ingressos de US$ 1,612 bilhão e saídas de US$ 1,280 bilhão.
"O mercado está se ajustando", diz o diretor de câmbio do banco CCF (Crédit Commercial de France), Carlos Marino Calabresi, observando que as operações comerciais estão registrando, em novembro, um déficit de US$ 19 milhões na média diária.
Ele explica que esse déficit comercial é proveniente de dois movimentos simultâneos: "A média diária das importações subiu para US$ 142 milhões, praticamente o dobro da média histórica, enquanto as exportações caíram para US$ 123 milhões por dia, bem abaixo do normal", diz Calabresi.
Os dados indicam que as medidas baixadas pelo governo na área cambial no dia 20 de outubro último estão produzindo efeitos, pelo menos nas operações comerciais.
Eduardo Leme, diretor do Multi Banco (associado ao BankAmérica), diz que o aumento na demanda de dólares nas transações comerciais reflete o impacto do compulsório de 30% sobre as operações de assunção de dívida ("compra" da dívida do importador pelo banco), que tende a se acentuar nos próximos dias com o aumento da alíquota para 60%, baixado na última sexta-feira.
Isso porque, embora os bancos tivessem transferido tais operações para empresas não-financeiras, elas não estão sendo renovadas nos vencimentos e a nova alíquota inviabiliza a abertura de novas.
Há também um aumento no volume de importações, embora seja difícil separar no movimento de câmbio esses valores daqueles de assunção de dívida que estão vencendo, diz Leme.
Se dependesse apenas do fluxo comercial (exportações e importações), a tendência da cotação do dólar seria de alta. Mas ela pode ser neutralizada pela entrada de investimentos estrangeiros diretos ou nas Bolsas de Valores e de empréstimos, principalmente via eurobônus.
Calabresi, do CCF, acha que, até o final do ano, a cotação da moeda norte-americana não deve sofrer grandes pressões de baixa, em função dos balanços anuais.
Primeiro porque ele prevê um movimento de retorno, ainda que temporário, dos recursos estrangeiros de caráter especulativo. Segundo porque historicamente os bancos estrangeiros não costumam virar o ano "vendidos" em dólar.
Leme discorda do último item. Ele lembra que, na passagem para o real, muitos bancos estrangeiros viraram o último semestre com posições "vendidas", indicando uma estratégia mais agressiva em relação ao comportamento tradicional.
Por isso, mesmo levando em conta as remessas de dividendos ao exterior que as filiais das empresas estrangeiras fazem todo final do ano, Leme diz que a cotação do dólar vai depender muito do movimento dos juros internos.
Pelo seu raciocínio, se os juros não baixarem a ponto de desestimular as operações de eurobônus, o governo pode adotar mais restrições ao ingresso de dólares.

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