São Paulo, terça-feira, 15 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Candidato à PUC pode ter prova oral

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Três questões foram apontadas no debate realizado pela Folha que discutiu as mudanças no vestibular pelo diretor da Fuvest, Alceu Gonçalves de Pinho, 60.
São elas: a de provas objetivas contra provas dissertativas, o relacionamento dos vestibulares com ensino de primeiro e segundo graus e a chamada "democratização" do ingresso à universidade pública por alunos despreparados de escolas da rede.
Sobre este último ponto, Pinho diz que "o vestibular apenas espelha o processo perverso de seletividade que se desenrola ao longo dos 11 primeiros anos de ensino. Hoje é muito triste ver o que acontece. Das escolas da rede, 60% estão literalmente depredadas. Não é o vestibular que vai corrigir isso".
As outras questões também foram abordadas. "A gente mantém a prova dissertativa só para que não haja influência negativa no ensino de primeiro e segundo graus. Mas é totalmente desnecessária."
Para ele, "com questões inteligentes, o teste de múltipla escolha constitui um instrumento de avaliação adequado".
"Não pode ser um propósito único ou mesmo principal do ensino de primeiro e segundo graus preparar para concursos vestibulares. Dos ingressantes na primeira série do primeiro grau, só 5% a 7%, concluem a última série do primeiro grau. Vejam que aí já há um enorme massacre."
"Há quem confunda método de avaliação com método de ensino. Então, se a avaliação é feita através das chamadas cruzinhas, acham que tem que ensinar a fazer teste. Isso é um disparate total, mas ocorre", diz Pinho.
Carlos Felício Vanni, 56, coordenador do vestibular da Unesp, também falou da influência do vestibular no ensino.
"Sabemos que o professor de segundo grau tem competência para selecionar o que é significativo na literatura e nas outras áreas durante o segundo grau."
Daí, segundo ele, a decisão de não divulgar lista de livros obrigatórios. Vanni diz que há um problema de subsidiar o candidato na escolha da sua profissão.
"Em muitos cursos, o problema da evasão é extremamente sério como reflexo de uma escolha feita às pressas, sem o devido cuidado. A Unesp tem ajudado o candidato, distribuindo o 'Guia de Profissões', por exemplo."
Para o coordenador do exame da Unicamp, Jocimar Archangelo, 55, as habilidades que constam do perfil do aluno que a Unicamp deseja são: que os candidatos sejam capazes de exprimir-se com clareza, organizar as idéias, estabelecer relações, capacidade de interpretar dados e fatos, elaborar hipóteses e dominar o conteúdo das disciplinas do segundo grau.
Regina Denigres, coordenadora do vestibular da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), diz que a universidade fez nos últimos anos avaliações sobre o perfil de seu candidato ideal.
"Essa análise nos levou a uma série de questionamentos. Chegamos à conclusão de que deveríamos estar preocupados com o candidato que viesse para a universidade com uma boa formação geral, humanística."
Segundo ela, a universidade vinha até então privilegiando a formação especial. "Para nós, em um curso de medicina, a história é tão importante quanto biologia e química", afirma.
A PUC cogita a realização de provas orais. "Infelizmente não pudemos ainda acrescentar no nosso vestibular. Alguns cursos quase nos obrigam a verificar a capacidade de comunicação oral dos candidatos, que não deixa de estar ligada à formação geral."

Texto Anterior: AUTO-AJUDA
Próximo Texto: O QUE MUDA NOS VESTIBULARES
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.