São Paulo, terça-feira, 15 de novembro de 1994
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TV deve corrigir erro sobre lei anti-racismo

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Globo deverá corrigir informação sobre a lei Afonso Arinos que "Pátria Minha" transmitiu incorretamente há dez dias. "Se cometemos um erro, não há por que deixar de retificá-lo", diz Sérgio Marques, um dos cinco autores da novela.
No capítulo de sábado retrasado, "Pátria Minha" informou que o Brasil dispõe de uma lei para combater o preconceito racial: a Afonso Arinos.
O assunto veio à tona durante conversa do advogado Osmar (Nuno Leal Maia) com o jardineiro Kennedy (Alexandre Moreno), jovem negro que sofrera insultos racistas do patrão, o empresário Raul Pelegrini (Tarcísio Meira).
Uma semana depois, três organizações paulistas resolveram contestar a informação na Justiça Federal.
É que a lei Afonso Arinos não existe mais. Nasceu em julho de 1951 e vigorou até 1988.
Definia o racismo como contravenção penal. Quem o cometesse teria que pagar multa em dinheiro ou poderia ficar preso por um ano.
A Constituição de 1988 passou a tratar o tema com mais rigor. Revogou a lei Afonso Arinos e classificou a discriminação racial como crime inafiançável.
Em 1989, outra lei, a 7.716, proposta pelo deputado Carlos Alberto de Oliveira, estabeleceu a pena contra os praticantes de racismo: reclusão de dois a cinco anos.
Por meio de uma notificação judicial, o Instituto do Negro - Padre Batista, o Sindicato dos Artistas de São Paulo e o Núcleo de Consciência Negra reivindicam que "Pátria Minha" corrija o erro.
Defendem que, se não retificá-lo, a novela alimentará a "perpetuação do sentimento de impunidade que move os racistas".
"Ainda não recebemos a notificação. Foram amigos da comunidade negra que nos alertaram para o engano do personagem Osmar. Pretendemos repará-lo em breve, assim que o enredo da novela permitir", afirma Sérgio Marques.
O autor preferiu não adiantar de que maneira "Pátria Minha" fará a correção. "Estamos pensando. Temos que esperar o momento oportuno."
Marques diz que, "provavelmente", o próprio Osmar admitirá o erro sobre a lei anti-racismo e o corrigirá.

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