São Paulo, quarta-feira, 16 de novembro de 1994 |
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Bôscoli conta como amou Elis e Maysa
LUÍS ANTÔNIO GIRON
Bôscoli é um dos principais letristas e líderes da bossa nova –movimento de modernização da música brasileira que se deu entre 1958 e 1964. O lançamento de "Eles e Eu" acontece no Rio de Janeiro sem a presença do autor. Até ontem, Bôscoli estava internado há 28 dias na UTI do hospital Rio Mar, na Barra. Segundo sua ex-mulher, Heloísa Bôscoli, a situação era "estável" ontem. Bôscoli tem câncer. Seu amigo, o "entertainer" Luiz Carlos Miéle, programava para amanhã um show para o lançamento do livro. Mas até ontem não sabia se seria no People ou no Jazzmania. Segundo Maciel, a publicação do livro concretiza o desejo de Bôscoli de deixar um testemunho de época e, sobretudo, de amores com cantoras do primeiro escalão. Foi noivo de Nara Leão, marido de Elis Regina e amante de Maysa. Ele era conhecido na juventude como "sabonete Lever". Tal como dizia o slogan do produto, Bôscoli era "o favorito de nove entre dez estrelas". No final de 1993, estava com pressa. Sentindo-se muito fraco, procurava alguém que lhe escrevesse ao livro. Achou Maciel, 56, com quem havia trabalhado na Rede Globo, no setor de roteiros de shows. O serviço tinha que ser rápido. Bôscoli já havia assinado um contrato com a editora Nova Fronteira. Maciel aceitou o trabalho, chamou uma aluna, Ângela Chaves. "Ele precisava de uma 'pena de aluguel' porque não se sentia em condições físicas de realizar o trabalho", diz Maciel. "Começamos a nos reunir na casa dele, na Barra, e gravamos horas e horas de entrevistas". Maciel tem em casa 20 fitas com depoimentos do jornalista. "Começou como um serviço profissional, mas acabei me envolvendo". Segundo Maciel, Bôscoli fazia questão de supervisionar o trabalho. Emendava, corrigia, suavizava algumas declarações venenosas em relação a alguns desafetos. "Não fiz nenhuma pesquisa", confessa Maciel. "Escrevemos em primeira pessoa porque o que está no livro é a voz de Bôscoli, inclusive com suas expressões, seu jeito de falar. O livro é um bate-papo. É o Bôscoli". Os originais ficaram prontos em maio. Segundo o "pena de aluguel", Bôscoli contava com uma previsão de cinco anos de sobrevida, dada pelos médicos, e tinha diversos planos antes de ser internado. Queria fundar na Barra (zona sul do Rio) um centro cultural para preservar a bossa nova. Já tinha até o imóvel, doado pela prefeitura da cidade, e o nome: Casa da Bossa. Projetava escrever a biografia definitiva do cantor Roberto Carlos. Além de autor de todos os roteiros dos shows do "Rei", Bôscoli tinha a autorização do artista para escrever a biografia. "Não vejo necessidade de fazer uma festa de lançamento do livro, já que o autor não estará presente", comenta o crítico. "O melhor seria distribuí-lo diretamente às livrarias". Para Maciel, as passagens mais interessantes do livro são as que se referem aos casos amorosos: "Bôscoli tem um veneno que muitas vezes teve de conter. Ao longo de nossas conversas, atacou muito o cronista Antonio Maria porque este era contra a bossa nova." Não quis contar episódios muito picantes, mas, ainda assim, há diversos no livro. Seus casos amorosos, acha Maciel, ajudaram a alterar alguns rumos da MPB. "Além disso, foi o principal animador da bossa nova, um homem que fazia questão de aglutinar os artistas, organizar os shows, criar fatos", diz Maciel. "Daí também a importância histórica do volume. Ali, a história do movimento é contada de um ângulo pessoal". Livro: Eles e Eu Autor: Ronaldo Bôscoli, em depoimento a Luiz Carlos Maciel e Ângela Chaves Lançamento: Nova Fronteira, 287 págs. Quanto: a definir Texto Anterior: Berlim 95 homenageia Buster Keaton e cinema; 'Forrest Gump' domina bilheteria européia; Cantora Patricia Kaas será Marlene Dietrich; Menken e Rice fazem trilha de "King David" Próximo Texto: Unidade Bop traz funk-soul aos anos 90 Índice |
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