São Paulo, quarta-feira, 16 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Programa peca pela omissão

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma coisa é apenas utilizar os recursos de multimídia. Outra, bem mais complicada, é explorá-los de maneira inteligente, combinando uma excelente programação visual à abundância de ilustrações e sons.
É esse, basicamente, o único mérito da edição de 1995 da "Compton's Interactive Encyclopedia", CD-ROM em breve disponível no mercado brasileiro.
Trata-se de um produto com sete portas de acesso ao seu conjunto de verbetes, como árvore com classificação por assuntos, associações por temas, eixos cronológicos ou geográficos, e nada menos que 16 maneiras de se apresentar as informações.
Exemplos são a reprodução virtual dos sons de animais ou instrumentos, a transcrição de partituras em sintetizador, fotos ou curtos vídeos que documentam determinado acontecimento.
Em suma, a "Compton's" é um brinquedo instrutivo, que utiliza logotipos colorizados com bom gosto e que maximiza o potencial das caixas de som e de uma tela de monitor SuperVGA.
Há, no entanto, limitações –em parte justificáveis pelo fato de um CD-ROM, ao optar pelo armazenamento de múltiplas linguagens, não ser um suporte com capacidade infinita e, portanto, precisar ser objeto de uma seleção.
Há, portanto, bem menos verbetes e informações que numa tradicional enciclopédia impressa e com seus volumes enfileirados na estante de uma biblioteca.
Mas digamos que as simplificações são por vezes excessivas. O atlas, a princípio feito com o propósito de fornecer uma visão geral sobre os continentes e países, deixa de registrar cidades de tamanho médio e valor histórico.
Cada país europeu, por exemplo, traz no máximo quatro ou cinco localidades. No Brasil, mundialmente bem mais periférico, entre São Paulo e Porto Alegre ignora-se a presença de Curitiba ou Florianópolis no mapa.
Nos verbetes propriamente ditos, as lacunas são por vezes lamentáveis. Não se pode falar do documentário cinematográfico sem que apareça numa única citação o russo Dziga Vertov, ou se construir uma visão antológica da música sem que apareça o compositor Sergei Prokofiev.
Em literatura de língua portuguesa, digamos que para um consumidor norte-americano de CD-ROM seja o suficiente resumir em quatro linhas quem foi Machado de Assis. Mas é incompreensível que não haja nada sobre Eça de Queirós.
Outros exemplos: não há menção ao escritor italiano Italo Calvino e Jorge Luis Borges é logo de início qualificado de "escritor argentino cego", quando, em verdade, a cegueira se manifestou nos últimos anos de sua vida.
Os verbetes estão centrados no campo de interesse do consumidor dos Estados Unidos. No volume sobre esportes, não há um verbete Ayrton Senna, da F-l, mas aparece Mario Andretti, da F-Indy.
E ainda: para uma enciclopédia que se diz de 1995, o capítulo futebol traz como dado mais recente para as copas do mundo o início das eliminatórias de 1986.

Texto Anterior: "Compton's 95" mantém falhas antigas
Próximo Texto: Chega livro da Quark sobre multimídia; Jet-Empregos cadastra procura de emprego; CompExpress vende linha Aptiva da IBM
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.