São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 1994
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Procuradoria pede inquérito contra novela

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

O procurador regional da República no Rio, Ricardo Santos Portugal, determinou à Polícia Federal que abra inquérito contra "os responsáveis" pela novela "Pátria Minha".
O motivo: as cenas em que um dos protagonistas da trama, o empresário Raul Pelegrini (Tarcísio Meira), acusa o jardineiro Kennedy (Alexandre Moreno) de roubo e o ofende com expressões racistas ("negro safado", "crioulo", "negro insolente").
A Rede Globo exibiu o diálogo entre os dois personagens há 15 dias, por volta das 21h.
Para determinar a abertura de inquérito, o procurador se apoiou no artigo 20 da lei 7.716/89, que estabelece como crime "praticar, induzir ou incitar, pelos meios de comunicação social ou por publicação de qualquer natureza, a discriminação ou preconceito de raça, cor, religião, etnia ou procedência nacional".
O ofício que requisita a ação policial partiu da procuradoria na última segunda-feira. Tinha como destinatário o superintendente da PF no Rio, Eleutério F. Parracho.
O documento não define quem são os "responsáveis pela novela" –se a equipe de cinco autores, se a Rede Globo ou se ambos.
Assim que abrir o inquérito, a PF deverá requerer à emissora cópia das cenas em que Pelegrini ofende Kennedy. O passo seguinte é ouvir "as partes" –provavelmente, os autores de "Pátria Minha" e o representante da Globo.
Se concluir que a novela de fato incitou o racismo, a PF indiciará os eventuais culpados. Depois, remeterá o inquérito para o Ministério Público, que poderá abrir processo contra os indiciados.
Em caso de condenação, os responsáveis por "Pátria Minha" terão que cumprir pena de dois a cinco anos de reclusão.
Na semana passada, o Geledés/SOS Racismo e outras organizações de São Paulo que lutam pelos direitos dos negros também recorreram à Justiça contra a novela.
Alegavam que o diálogo entre Raul Pelegrini e Kennedy estimulou o preconceito racial no Brasil. E, "acima de tudo", feriu "a autoestima da comunidade negra".

LEIA MAIS sobre "Pátria Minha" à pág. 5-3

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