São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 1994
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Torcidas têm 5% de 'gladiadores'

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Chega a 5% a parcela de integrantes de torcidas organizadas de futebol adeptos de violência contra torcedores rivais.
A conclusão é de pesquisa do Núcleo Permanente de Sociologia do Futebol da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
"A maioria dos torcedores não comparece aos estádios por causa da ação crescente e preocupante dessa minoria", afirma o sociólogo Maurício Murad, 46, coordenador do núcleo.
Estudantes da Uerj acompanharam entre 1991 e 1994 –infiltrados ou se apresentando como pesquisadores– três torcidas do Rio.
A flamenguista Raça Rubro-Negra, a botafoguense Folgada e a vascaína Força Jovem, envolvida na morte de quatro torcedores adversários no últimos cinco anos, de acordo com a Polícia Civil.
A conclusão da pesquisa é que os torcedores "organizados" são parcela pequena (poucos milhares) da torcida (milhões). A Raça reúne hoje 28 mil sócios. A Força Jovem, 9.000.
"E, dentro das torcidas organizadas, os gladiadores formam um universo menor", diz Murad. "Os baderneiros são cerca de 5%."
A pesquisa, cujo relatório ainda não foi concluído, registra mudança de comportamento nas "organizadas" na década de 70.
"Até então carnavalizadas, passaram a ser militarizadas, seguindo as doutrinas do regime militar então vigente", conta o sociólogo.
As torcidas mimetizam a ideologia e os padrões de organização militares, segundo a pesquisa. A Torcida Jovem se organiza em "pelotões" e "destacamentos".
Um dirigente de "organizada" flamenguista é chamado de "capitão" Léo, embora não tenha seguido carreira militar.
Para o coordenador do Núcleo de Sociologia do Futebol, as torcidas organizadas se tornaram "válvula de escape" para a juventude a partir da década retrasada.
"Sem canais de participação política e cultural, passaram a canalizar a energia para o futebol, o maior fenômeno da cultura de massa brasileira."
A impunidade é um dos fatores decisivos para o crescimento da violência das "organizadas", na opinião de Murad.
"Nas mais de 20 horas de gravações que fizemos, uma das frases mais ouvidas foi: 'se houver problema com a polícia, não vai dar em nada'."
A parte final do trabalho propõe três tipos de iniciativa para combater a violência.
O primeiro, educacional, através de campanhas, palestras, conscientização. Depois, "controle de massa". "Propusemos ao Maracanã abrir mais cedo os portões antes dos jogos", conta Murad.
A terceira medida antiviolência é a repressão.

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