São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 1994
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Trégua entra em vigor em Angola

FERNANDO ROSSETTI
DE JOHANNESBURGO

Começou a valer ontem às 20h (16h em Brasília) um cessar-fogo entre o governo angolano e a Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola).
O cessar-fogo visa garantir a assinatura de um acordo de paz no domingo entre o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, e o líder a Unita, Jonas Savimbi.
As Forças Armadas de Angola atacaram ontem Uige, no norte do país, última cidade que ainda estava sob controle da Unita.
Os dois grupos estão em luta desde a independência do país em relação a Portugal, há 19 anos. Rica em diamantes e petróleo, Angola foi destruída pela guerra civil, que deixou um saldo de mais de 500 mil mortos.
Quando estava próximo do acordo de paz –que deveria ter sido assinado anteontem–, o governo lançou um ataque contra a Unita que culminou, na semana passada, com a tomada de seu quartel-general, a cidade de Huambo.
Comandantes ouvidos por telefone ontem pela "Associated Press" disseram que a notícia do cessar-fogo não havia chegado ao interior –onde ocorrem as lutas.
O governo disse que faria um comunicado nacional por rádio no final do dia. Mas a chance de tomar completamente as regiões antes dominadas pela Unita está levando alguns comandantes a manterem a ofensiva, apesar da promessa de um cessar-fogo pelo governo em Luanda.
A Unita pediu ontem que a ONU coloque observadores nas principais regiões de combate, para que o cessar-fogo seja garantido.
Jonas Savimbi, da Unita, continua em local desconhecido. Ele diz que o governo angolano contratou mercenários para matá-lo.
Mas uma delegação da Unita está em Lusaka, capital da Zâmbia, negociando o acordo final –que prevê um cessar-fogo permanente a partir do dia 22.
Desde a década de 70 busca-se um acordo de paz entre os dois grupos, que antes lutaram pela independência de Angola. O último acordo foi assinado em 1991 e levou às primeiras eleições multipartidárias do país, em 1992.
Mas a Unita perdeu e, alegando fraudes no processo eleitoral, retomou a guerra civil, conquistando dois terços do território do país.
Desde então, cerca de 80 mil pessoas morreram, segundo as agências internacionais.
Com a pacificação do sul da África e o abandono do comunismo pelo governo angolano, a Unita perdeu seus maiores financiadores –EUA e África do Sul.
Enfraquecida e investindo no acordo de paz que levaria a uma redistribuição de poder no país, o grupo rebelde acabou pego de surpresa pelo ataque das Forças Armadas, que investiram pelo menos US$ 20 milhões em treinamento este ano.
Com agências internacionais

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