São Paulo, sexta-feira, 18 de novembro de 1994
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Pelotão de fuzilamento

SÍLVIO LANCELLOTTI

A derrota da Itália para a Croácia, 1 x 2, no Grupo 4 das eliminatórias da Eurocopa-96, levou ao pelotão de fuzilamento o treinador Arrigo Sacchi e, praticamente também, Antonio Matarrese, o presidente da federação da Bota.
Não apenas pelo resultado e as suas consequências. Mas como uma espécie de vingança. A imprensa da Itália só esperava por um pretexto, um catalizador, para desferir toda a sua ira sobre eles.
O fracasso da quarta-feira em Palermo não tira as chances de a "Azzurra" chegar às finais da Euro. Serão quinze as nações qualificadas, além da anfitriã, a Inglaterra.
Além disso, a Croácia tem um ótimo elenco, herdou excelentes craques da antiga Iugoslávia, como Jarni e Boban, que atuam na Itália, mais Suker e Prosinecki, que brilham na Espanha.
Para Sacchi e Matarrese, todavia, a imprensa da península não mais permitirá o choro das atenuantes.
Convivi mais de um mês com ambos os lados em Martinsville, Nova Jersey, na Copa dos EUA. E testemunhei a relação de ferro e fogo que antepõe a cartolagem e os jornalistas da Itália.
Nos bastidores da concentração da "Azzurra", na Pingry School, os periodistas apelidavam Matarrese no mínimo de "mafioso".
Apesar do seu sorriso e da sua simpatia exterior, Sacchi era trucidado por comentários desairosos assim que dava as costas aos enviados de plantão.
Sacchi, de fato, se esforça para cobrir, com uma página de boa educação, coisa de seminarista, um temperamento individualista, às vezes brutal na sua franqueza.
No genérico, ele trata a imprensa com a lanheza de um diplomata. É superseletivo, todavia, quando precisa transmitir uma informação exclusiva que lhe interesse.
Não consegue equilibrar os seus poucos amores entre os três grandes diários esportivos da Itália, "Tuttosport", "La Gazzetta dello Sport" e "Il Corriere dello Sport", além da revista "Guerin Sportivo".
Matarrese, por sua vez, vive um momento de ascensão internacional, cada vez mais poderoso na Uefa e na oposição interna a João Havelange na Fifa –e, em contrapartida, sofre um bombardeio terrível na Itália, pressionado por políticos da turma do premiê Silvio Berlusconi, dono do Milan, em busca de um fio de corrupção na federação, capaz de induzir a uma intervenção governamental.
Agora, a "Azzurra" só jogará em março, em casa, diante da Estônia. A imprensa da Bota, no entanto, permanecerá de tocaia. Bastará um escorregão de Sacchi, ou de Matarrese, para que o pelotão de fuzilamento comece a disparar.

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