São Paulo, sábado, 19 de novembro de 1994
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Pelé afirma que temeu errar o seu milésimo gol

MARCUS FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

Pelé comemora hoje 25 anos da marcação seu milésimo gol, marcado em jogo realizado no Maracanã, contra o Vasco da Gama, no dia 19 de novembro de 1969. "A única vez em que eu fiquei com medo de errar como jogador foi nesse dia, 25 anos atrás", disse Pelé. Para o ex-jogador, o milésimo gol "é um recorde mundial que até hoje não foi batido, que ajudou e projetou o Brasil no mundo". A seguir os principais trechos da entrevista.
Agência Folha - Qual a lembrança mais marcante daquele dia?
Pelé - Acho que foi o medo de bater aquele pênalti (o milésimo gol foi marcado numa cobrança de pênalti). É engraçado. Em toda a minha carreira nunca tive medo de errar. A única vez que isso aconteceu foi naquele dia.
Agência Folha - Por quê?
Pelé - O Santos vinha de uma excursão pelo Norte e Nordeste. Eu já tinha 999 gols e durante a excursão não consegui marcar o milésimo. Naquele dia a expectativa era enorme. Quando o Renê fez o pênalti em mim eu fiquei nervoso, não queria bater. Pedi para o Pepe e para o Toninho chutarem. Eles se recusaram. Aí, o estádio começou a gritar o meu nome. Você não sabe como foi difícil controlar o nervosismo. É uma lembrança que me emociona até hoje.
Agência Folha - Havia um comentário na época, que você forçou para que o milésimo gol saísse no Maracanã. É verdade?
Pelé (rindo) - Isso é lenda, folclore do futebol. Vou te contar uma história. Na excursão ao Norte e Nordeste, o Santos tinha um jogo na Bahia. Eu driblei o beque (zagueiro), passei pelo goleiro e chutei. Quando a bola ia entrando, um zagueiro tirou em cima da linha. Nunca vi um beque salvar um gol e ser tão vaiado. O presidente do Bahia, na época, era o João Saad. No fim do jogo ele me disse que aquele zagueiro nunca mais jogaria no time dele.
Agência Folha - Você não ficou frustrado por ter marcado o milésimo gol de pênalti?
Pelé - No começo fiquei sim. Eu queria que fosse um gol bonito, como tantos outros que marquei no próprio Maracanã. Mas, depois, o Armando Nogueira me disse que o gol tinha que ser mesmo de pênalti, para que todo mundo pudesse ver, sem perder nenhum detalhe. Ele tem razão. Foi coisa de Deus.
Agência Folha - Nesses 25 anos, o que mais te surpreendeu na vida?
Pelé (pensando) - A minha grande surpresa é que eu não fui esquecido. Eu achava que ia ter um descanso, que minha vida ia ser igual a qualquer jogador que se aposenta.
Agência Folha - Pelé é um homem rico?
Pelé - Enquanto joguei pelo Santos nunca recebi o que merecia. Mas eu gostava e gosto do Santos. Na verdade, eu só comecei a ganhar dinheiro depois que parei de jogar bola. É engraçado, né?

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