São Paulo, sábado, 19 de novembro de 1994
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Povo da rua

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Erramos: 20/11/94

Este artigo menciona incorretamente o nome do projeto "Jovens de Ouro" (saiu " Governo de Ouro"). No penúltimo parágrafo do mesmo artigo, leia-se "mocidade carente" em vez de " cidade carente".
Em nossas cidades maiores, como Rio e São Paulo, cresce o número dos pobres que não têm onde morar. Acabam dormindo na rua, defendidos por pedaços de papelão. A tristeza é grande, ao constatarmos que outras cidades já apresentam os mesmos sintomas de miséria, multiplicando o assim chamado "povo da rua".
Graças a Deus, há pessoas boas que ajudam, organizando-se para atender a esses irmãos necessitados. Em São Paulo, o Centro São Martinho, sob o viaduto Guadalajara, vem oferecendo seus serviços, há quatro anos, para orientar os primeiros passos dos que procuram trabalho ou cuidados de saúde.
Outras iniciativas demonstram que ainda existe fraternidade entre nós. Estamos, no entanto, muito longe de encontrar solução para tantas vítimas da miséria e da consequente violência.
Aqui ficam algumas sugestões, na esperança de que os novos governos dêem prioridade à ação contra a miséria.
A curto prazo, será necessário intensificar os serviços de atendimento aos que não têm mais como trabalhar. Para isso é preciso multiplicar os centros de acolhida, onde o povo da rua encontre alimento, serviço de ambulatório, iniciação ao trabalho e garantia de lugar provisório nos albergues públicos. Os primeiros resultados desse atendimento provam que é possível reverter este quadro, quando há verdadeira dedicação e solidariedade cristã.
No entanto, para que esses serviços sejam bem-sucedidos, outras iniciativas são necessárias. As áreas do interior acusam o êxodo rural que acarreta o desemprego dos que chegam à cidade sem preparo profissional.
O fato é bem conhecido e requer medidas que facilitem a permanência da família no campo, com melhoria das escolas, do atendimento à saúde e benefícios tecnológicos. Ao mesmo tempo, para os que já estão vivendo nas periferias das cidades do interior, será preciso oferecer condições de trabalho, mediante pequenas indústrias e aproveitamento da mão-de-obra em plantações mais rendosas, hortigranjeiros e frutífera. Sem este esforço para garantir trabalho, a miséria só fará crescer.
Em nível nacional, torna-se cada vez mais clara a urgência de um forte investimento financeiro e tecnológico em benefício do Nordeste. Não é justo que, por mais tempo, permaneçam nossos irmãos do Nordeste sofrendo os efeitos da seca e da falta de planejamento que lhes assegure condições dignas de trabalho e desenvolvimento.
A última campanha presidencial alertou o país para as carências do povo nordestino e o direito que possui de receber atenção prioritária dos governantes. A sociedade democrática, com efeito, tem por meta assegurar o pleno desenvolvimento a todos os cidadãos, eliminando as injustas diferenças sociais.
Os bons exemplos servem para nos animar. Na cidade de Ouro Preto, uniram-se a liderança do município, a universidade federal, empresas e organizações não-governamentais para lançar o projeto "Governo de Ouro".
A intenção é de garantir à cidade carente condições de estudo, trabalho e um salário modesto. Pretende-se, assim, não só vir ao encontro dos necessitados, mas entrelaçar os laços de solidariedade entre os vários grupos interessados em promover os carentes.
A próxima Campanha da Fraternidade-95 há de nos ajudar a concentrar esforços a serviço dos excluídos. "Quem não ama o povo da rua e o próximo a quem vê, como poderá amar a Deus a quem não vê?" (Jo 4,20).

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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