São Paulo, domingo, 20 de novembro de 1994
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Palmeiras deve se mirar no São Paulo

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O Palmeiras, quando decidiu montar o esquadrão que lhe deu três títulos de enfiada, num só ano, mirou-se no São Paulo, que invadiu os 90 com ares de quem estava cem anos-luz à frente dos demais. Amenizou a inflamada paixão dos seus dirigentes, calou as tradicionais cornetas que soavam estridentes ao menor sinal de desastre, e, meticulosamente, foi construindo um timaço campeão. Diria mesmo que, com a fleuma, de um autêntico tricolor.
Pois bem: ainda na quinta-feira passada, jogando com praticamente todos os seus reservas, o Palmeiras levou uma fubecada da Lusa, no Canindé. Isso, depois de ter goleado o arqui-rival Corinthians. Pronto: os sons da afinação das velhas cornetas começaram novamente a soar.
É, pois, hora de se mirar novamente no tricolor, que vem atravessando uma fase daquelas: perde, ganha, perde, é humilhado, mas não perde a pose. Telê, pacientemente, vai reconstruindo seu time vencedor. E, ainda na quarta-feira, conseguia o prodígio de ver seu time e o de Muricy, numa mesma noite, ganhar dois jogos estrategicamente importantes, em duas competições distintas, com um só jogador obtendo um feito que nem Pelé, autor de todos os feitos, alcançou. Refiro-me a Juninho, que decidiu as duas partidas, entrando no 2º tempo de ambas.
Mais ainda: confirmou a revelação de um craque que vai dar muito o que falar –o menino Denílson, que, de tão bom, saltou dos juvenis direto para os profissionais, sem passar nem sequer pelos juniores. Com 17 anos, cumpridos em agosto deste ano, Denílson desliza pelo gramado com a leveza dos antigos craques, de quem parece ter herdado a antevisão das jogadas, marca dos diferenciados. Seu chute, nem de longe, mas seu gingado me lembra Jair Rosa Pinto, o Jajá da Barra Mansa, que foi do Madureira direto para o Vasco, junto com Lelé e Isaias, com quem formava o trio denominado 'Os Três Patetas', os comediantes de Hollywood que encantavam o mundo naquela primeira metade dos anos 40. O mesmo Jajá que, no final daquela década, trocou o Flamengo pelo Palmeiras, para, em 50, ser fundamental na conquista do Taça do Mundo, um torneio internacional de clubes, que parecia destinado exatamente ao Vasco de Danilo, Ipojucã, Ademir Tesourinha e companhia.
Hoje, jogam o mesmo Vasco contra o mesmo Palmeiras. Quer dizer: não os mesmos. Afinal, os verdes entram em campo se poupando, enquanto os cruzmaltinos vivem os instantes doloridos do parto de uma nova geração. Pra mim, porém, serão sempre Palmeiras e Vasco.

Certa vez, disse ao Serginho Chulapa que ele havia sido abençoado, pelo corpo e talento que a natureza lhe proveio. O resto era com ele. Se tivesse juízo, poderia fazer fortuna como jogador de nível internacional. Não teve. Mas teve uma segunda chance que poucos têm, como técnico. Uma chance é difícil; duas, uma raridade; três, só milagre.

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