São Paulo, domingo, 20 de novembro de 1994
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Condescendência prejudica Edmundo

TELÊ SANTANA

Criei meus filhos e agora, quando o futebol me permite, procuro auxiliar na criação de meus netos.
Nesse processo de educação, percebo que existe uma verdade: para se evitar que um ato contestado não venha a ocorrer novamente é preciso que o assunto seja tratado com seriedade e rigor, ainda que isso possa doer para o educador.
Alguns vão manifestar que esse procedimento faz parte do meu jeito natural e "mineiro" de ser. Mas devo afirmar, sem medo de errar, e colocando todas as "provas" à disposição, que sempre deu resultado.
Dispenso aos atletas que treino um procedimento semelhante. Felizmente, colhi muito bons resultados até agora.
Por pensar assim é que vejo com enorme tristeza o tratamento que vem sendo dispensado ao atleta Edmundo em suas aparições na TV, sobretudo quando instado a tecer comentários sobre os lamentáveis fatos ocorridos no último jogo entre São Paulo e Palmeiras.
Jornalistas, repórteres e entrevistadores, inclusive aqueles que exteriorizam pensamentos contrários à indisciplina no campo esportivo, riem e divertem-se com as "travessuras" de Edmundo.
É por isso que penso que um atleta como ele, de invejável capacidade técnica, jamais recebeu um verdadeiro apoio.
Apoiar o Edmundo, na situação em que ele se encontra, seria agir com todo o rigor possível, seria ver imposta uma punição pela Justiça desportiva, que me parece inevitável.
E esperar que ele, durante o cumprimento da pena, reflita e reconheça todo o seu erro.
Assim, em vez de atribuir sua atitude a inexistentes cusparadas, ora do Juninho, ora do André, ou mesmo às palavras do Kalef (próprias de um torcedor apaixonado), iria perceber que é o seu temperamento difícil que lhe causa dificuldades.
Indago: será que, se esse procedimento rigoroso ora sugerido tivesse sido observado da primeira vez que o atleta esteve envolvido numa situação semelhante, teria ele voltado a reincidir na mesma prática?
O tratamento carinhoso, cordato e simpático de todos aqueles com quem ele têm contato, longe de se traduzir em apoio, está estimulando a própria ação infratora das normas.
Que se apresentem os verdadeiros amigos de Edmundo! Aqueles que pretendem vê-lo jogando futebol, e somente jogando futebol. Mas que manifestem desapontamento pelos fatos ocorridos.
Pode-se se fazer uma analogia com psicologia infantil. Se uma criança quebra um copo e todos riem, logo estará quebrando a cristaleira.

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