São Paulo, domingo, 20 de novembro de 1994
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Índia edita um guia do xingamento parlamentar

The Independent
De Londres

TIM MCGIRK

Assistir da galeria uma sessão do Parlamento do Paquistão, hoje em dia, é como observar luta-livre profissional. Corre-se o risco de ser atingido por um objeto pesado.
Na segunda-feira passada diplomatas, generais e membros da elite de Islamabad se reuniram para ouvir um discurso do presidente. Mas em pouquíssimo tempo os deputados começaram a atirar insultos uns contra os outros. A seguir, atiraram cadeiras.
A primeira-ministra Benazir Bhutto manteve-se impassível. Durante a confusão parlamentar, manteve no rosto uma expressão de tédio educado, mesmo quando um dos deputados foi carregado para fora estendido numa maca.
Comecei a me indagar quais teriam sido os insultos que levaram a tamanha perda de decoro parlamentar. Decidi consultar a palavra final em afrontas inventivas.
Trata-se de um livro editado pelo governo da Índia, de nome " Unparliamentary Expressions" (Expressões Não-Parlamentares).
Em 218 páginas, o livro lista todas as grosserias que os parlamentares indianos já disseram.
Também contém observações pouco elogiosas feitas na Casa dos Comuns, no Reino Unido, e nos Parlamentos de outros países integrantes do Commonwealth.
O verbete do Paquistão é especialmente chocho, e isso me levou a concluir que ou os indianos queriam retratar seus vizinhos inimigos como sendo carentes de humor, ou que o raciocínio paquistanês é: por que gastar palavras numa discussão no Parlamento quando se pode atirar cadeiras?
O primeiro verbete alfabético é "Um ministro é um alcoólatra", e o último "Abordagem zoológica". Este pede uma explicação, que é dada entre parênteses ( a "abordagem zoológica do problema humano foi responsável pelo desastre").
Dizer que uma palavra é "não-parlamentar" não proíbe seu uso por deputados. Quer dizer apenas que já foi registrada no livro.
As melhores tiradas vêm do estado de Orissa, na costa oriental da Índia: "Será que o deputado é obrigado a comportar-se como uma camponesa briguenta?", ou a enigmática recomendação: "Não aja como um veterinário."
Os legisladores australianos tendem a menosprezar o desempenho sexual de seus colegas e a se chamarem mutuamente de bêbados.
Já o insulto mais comum na Índia é " mentiroso", embora " trapaceiro", "covarde" e "bandicoot" (um rato grande e agressivo) não fiquem muito atrás.
Constam também da lista os discretos convites para acertar uma divergência parlamentar fora do recinto da Câmara: "Te verei lá fora" ou "Vou usar bala".
Os piores insultos parecem ser reservados a outros chefes de Estado. Presume-se que isso seja para desencorajá-los de passarem férias na Índia, e poupar os deputados locais das filas de aperto de mãos.
Um deputado na Câmara indiana chamou um dirigente estrangeiro (cujo nome não é dado) de "uma combinação de Hitler com Idi Amin", enquanto outros foram descritos como " tigre em pele de vaca", "psicopata" e "senil".
Às vezes, nas assembléias legislativas estaduais da Índia, não basta gritar para chamar a atenção.
No Estado de Bihar, um deles ficou frustrado por não ser ouvido e arrancou suas roupas e subiu em cima da mesa, nu. Finalmente pôde dirigir-se a seus colegas.
Tradução de Clara Allain

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