São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
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Militares cobram ação do Estado nos morros

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O Exército cobrou ontem uma "ação social" imediata do Estado do Rio para garantir o que chamam de "pacificação" da favela da Mangueira, de onde já retiraram suas tropas.
A Mangueira é "uma área limpa do crime organizado", disse o porta-voz da Operação Rio, o coronel Ivan Cardozo.
A Operação Rio é resultado de um convênio assinado em 31 de outubro entre os governos federal e carioca. Pelo convênio, o Exército passou a coordenar todas as ações de combate ao tráfico de drogas e ao contrabando e posse ilegal de armas no Rio.
O primeiro resultado prático e final apresentado pelo Exército é a favela da Mangueira. Os militares consideram que sua missão está cumprida naquela área da cidade.
"O Exército fez o trabalho de pacificação da área. Agora, cabe ao Estado cumprir as suas atribuições no local", disse Cardozo.
O superior hierárquico de Cardozo, o coronel Luiz Cesário da Silveira Filho, confirmou a declaração do porta-voz.
"Se eles (os traficantes) voltarem daqui a um ou dois meses, o Estado já terá tido tempo de ocupar o espaço para oferecer o trabalho assistencial antes feito pelos traficantes", declarou Cesário.
Os militares dizem estar seguros sobre a saída dos traficantes que agiam na Mangueira. "Temos o nosso serviço de inteligência trabalhando e sabemos que a área está limpa", disse Cardozo.
Estratégia e cenários
O Exército continua seguindo à risca tudo o que planejou para a Operação Rio. No caso da Mangueira, a ocupação seria, inicialmente, por 48 horas.
Para evitar constrangimentos, caso o prazo de 48 horas não pudesse ser cumprido, a ordem era dizer que o Exército ficaria por tempo indeterminado no morro. Oficialmente, a ocupação teve início às 5h da manhã do sábado.
Ontem, às 17h, os militares saíram da Mangueira. Em 36 horas os militares conseguiram cumprir a missão para o qual tinham estipulado o prazo de 48 horas. Apenas um soldado ficou ferido levemente no braço.
A partir de agora, outras favelas receberão o mesmo tratamento. O tempo da operação vai variar. No morro do Dendê, por exemplo, tropas da Marinha continuavam a vasculhar barracos até o início da noite de ontem.
A ação rápida do Exército na Mangueira e a declaração do porta-voz da Operação Rio são duas evidências de que o Exército pretende finalizar seus trabalhos no Rio no menor tempo possível. A Folha tem ouvido isso de militares envolvidos no comando da operação, que falam reservadamente.
"Nossa estratégia é a de tirar a água do peixe", diz o coronel Luiz Cesário. O "peixe", no caso, são os traficantes. A "água" são as favelas e os morros.
Em resumo, os militares estão preocupados em expulsar os traficantes das favelas cariocas. E só.
"O que interessa para nós é a área. O bandido, se ele foi para outro lugar, é outro caso", declara Ivan Cardozo.
Como as favelas ainda não dispõem de assistência social adequada, os militares temem a volta dos traficantes em algum momento.
Se ocorrer um retorno dos traficantes, durante a vigência da Operação Rio –que termina em 30 de dezembro–, estão previstas novas investidas militares em áreas já previamete invadidas.
No cenário mais positivo traçado pelos militares, é pequena a parcela dos traficantes que conseguirão se adaptar fora das favelas.
"Se o criminoso sair da favela, vai demorar para se enraizar em outro local. Será um peixe fora d'água. Ele não vai poder se instalar em Copacabana, porque lá é um outro tipo de criminoso que atua", afirma o coronel Cesário.
O cenário mais pessimista prevê uma reação dos traficantes expulsos dos morros. Isso praticamente inexistiu até agora.
Os militares avaliam que isso é mais provável quando só a PM ficar tomando conta das favelas.

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sobre o Exército no Rio à pág.1-9

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