São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
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Operação deixa Mangueira sem samba

DA SUCURSAL DO RIO

Na noite do sábado, não houve samba na Estação Primeira de Mangueira. A quadra da escola ficou dentro da área do cerco feito pelos militares e o ensaio foi cancelado.
Na Ilha do Governador, onde fica o morro do Dendê, a quadra da escola de samba União da Ilha ficou fora da área de cerco dos fuzileiros navais, mas poucas pessoas foram ao ensaio.
Os poucos presentes foram revistados por fuzileiros navais presentes no local.
Dois fuzileiros, apoiados em duas metralhadoras fixadas em tripés em cima de um jipe, faziam a recepção dos que chegavam. Outros três jipes ficavam atrás, dando apoio à operação.
Duas senhoras se submeteram à revista, mas tiveram que voltar para casa. Não eram moradoras da favela e não tiveram autorização para ficar na quadra da escola.
Por volta da meia-noite, na Ilha, não havia mais que duzentas pessoas na quadra. O tesoureiro Acácio Santos Goulart, 48, relacionou a pequena presença com a chuva, negando que a pouca presença fosse consequência da revista dos soldados.
"O que afasta frequentador é a cerveja cara e o ingresso caro", diz Édson Silva, 70, diretor de alas reunidas da escola.
"Estou achando vazio", disse Robson Ramos, 22, com um grupo de quatro jovens. Eles não se intimidaram com a operação e foram à quadra da escola. Foram revistados ainda no caminho para a quadra da escola. "É sempre esquisito, aquela arma apontada para você".
Baile funk
Na sexta-feira de madrugada, quando o Exército ocupou a favela, um baile funk estava acontecendo na quadra da União da Ilha. Várias pessoas foram detidas porque estavam sem documentos.
Dois outros bailes funks, que aconteceriam em clubes nas proximidades do morro, foram cancelados ontem.
Muitos moradores da rua Ana Néri, um dos acessos ao morro da Mangueira, aproveitaram a presença dos soldados para ficar conversando à noite na porta de suas casas.
Churrasco
Um grupo de moradores aproveitou para fazer um churrasco improvisado na calçada. A poucos metros de uma barreira montada pelos soldados, eles bebiam cerveja, comiam e conversavam.

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