São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
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Itamar abriu crise ao assumir negociação direta

MÔNICA IZAGUIRRE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Itamar Franco encontrou uma saída honrosa para contornar a crise instalada em sua equipe de ministros por causa do acordo salarial com os petroleiros.
Ele determinou a revisão do acordo, como queria a equipe econômica. Ao mesmo tempo, manteve o ministro do Trabalho, Marcelo Pimentel, à frente das negociações com a categoria. Hoje eles se reúnem em Brasília.
Pimentel foi o negociador da concessão de parcelas salariais referentes a perdas provocadas pelo Plano Bresser –o item que mais irritou o ministro do Planejamento, Beni Veras, e, posteriormente, Ciro Gomes (Fazenda).
Pelo acordo, os funcionários da estatal receberiam dois salários adicionais, como reposição.
Itamar assumiu as negociações da crise e desistiu de responsabilizar diretamente qualquer ministro porque ele mesmo está na origem da atrapalhada negociação com os petroleiros.
Por iniciativa própria, no começo de outubro, o presidente passou por cima das decisões do TST (Tribunal Superior do Trabalho) e, em troca do fim da greve, prometeu atender as principais reivindicações dos petroleiros.
Em setembro, o TST havia julgado abusiva a greve dos petroleiros e retirou da categoria uma série de privilégios históricos, como a garantia de emprego.
As promessas de Itamar incluíam rediscutir as dívidas trabalhistas da empresa em relação aos empregados (entre elas, as perdas do Plano Bresser) e o compromisso de poupar os grevistas de demissões retaliatórias.
Além de atropelar o TST, Itamar errou ao não convocar o ministro Beni Veras (Planejamento) para a reunião que culminou com a assinatura do acordo.
Interino no cargo, Delcídio Gomez foi quem mais se desgastou. Recebeu críticas de todos: Pimentel, Beni (em nome também de Ciro Gomes) e, ainda que de forma elegante, na reunião da quinta-feira passada, também do presidente Itamar Franco.
Pimentel teve a seu favor a decisão do TST, na quarta-feira, de revogar o enunciado que reconhecia o direito de os trabalhadores receberem a inflação expurgada pelo Plano Bresser.
Foi um socorro providencial, que lhe deu argumentos para voltar atrás na concessão do Plano Bresser e ajudou na decisão de Itamar de mantê-lo à frente das negociações. Marcelo Pimentel foi presidente do TST.
Greve
Os petroleiros, por sua vez, ameaçam iniciar nova greve hoje caso o governo modifique qualquer das cláusulas do acordo.
Carlos Alberto Spis, coordenador da FUP (Federação Única dos Petroleiros), diz que há possibilidade de dificultar a distribuição de derivados de petróleo, caso, na reunião de hoje, o governo volte atrás.

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