São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Minhocão vira ponto de tráfico e sexo

RICARDO FELTRIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Segundo moradores, o local também virou uma espécie de motel a céu aberto –usado principalmente por homossexuais.
Este ano, o número de queixas de pessoas que moram em prédios ao lado do Elevado Costa e Silva dobrou em relação ao ano passado.
Pelo menos duas queixas –por telefone ou pessoalmente– são feitas por semana só no 77º DP, responsável por ocorrências num raio de 3 km do elevado, na altura da alameda Glete (centro).
A PM admite que, nesse horário, o Minhocão é, na linguagem policial, um dos chamados "pontos mortos" da cidade. Ou seja, um local não coberto pelo policiamento (leia texto nesta página).
"É absurdo, mas o elevado à noite virou um ponto de travestis e viciados", declara o delegado Luiz Carlos Ramos, 50, do 77ºDP.
Segundo ele, o perfil dos novos frequentadores está afastando pessoas que costumavam utilizar o local à noite para o lazer.
"É uma pouca vergonha o que acontece nesse lugar de madrugada. Travestis se agarrando, homem com homem, mulher com mulher, maconheiro... Tem de tudo o que não presta", afirma Ivone Muller Ferreira, 63, síndica de um prédio na avenida São João.
A Folha frequentou o Minhocão durante quatro madrugadas. Em uma delas, a reportagem conheceu um rapaz de 19 anos, que quis se identificar apenas como B.
Sentado na divisória das pistas, sobre a rua Bento Freitas, ele fumava maconha. Na madrugada seguinte, ele concordou em ser fotografado –desde que não pudesse ser identificado.
B. afirmou que comprou a droga no próprio Minhocão e que às quartas, quintas e sextas-feiras "é fácil comprar pedrinhas (crack) ou erva (maconha) com um 'trafica", que teria ponto próximo à entrada do Minhocão na altura da praça Padre Péricles.
No mesmo local onde B. era fotografado pela Folha, outros três adolescentes também fumavam maconha.
Irritados com a reportagem, eles se recusaram a dizer seus nomes ou dar entrevista. "Não vamos falar. Não vamos 'sujar' esse ponto", disse um deles.
Em outra madrugada, a Folha flagrou duas garotas namorando sobre um cobertor, sob a garoa.
Ao serem abordadas, elas se recusaram a dizer seus nomes, cobriram a cabeça e passaram a gritar palavrões. "A gente vem aqui só namorar", disse uma delas.
Lazer com riscos
O artista plástico Ivan Ciscatti, 22, que mora no bairro Aclimação, diz gostar de patinar no Minhocão de madrugada, mas afirma que se divertir no local exige alguns cuidados.
"Fico alerta o tempo todo. Tem muita gente estranha aqui... drogados... Eu sempre ando com uma mochila bem pesada, que pode virar uma arma em caso de emergência", ironizou.
As garçonetes Cleide Silva, 17, Solange Santos, 21, e Maria Luciete da Silva, 15, também frequentam o Minhocão de madrugada para fazer ginástica, apesar de sentirem medo.
"Não dá para fazer de dia porque a gente trabalha", diz Cleide. "E precisamos perder a barriguinha", completa Solange, que tem o hábito de fumar enquanto faz cooper.

Texto Anterior: Padarias comunitárias formam profissionais; OAB vai à Justiça contra obra no Pacaembu; Seminário discute vigilância em saúde ; Aumentam multas a infração ambiental; Esgoto de Ribeirão será tratado em parceria; Shopping dá imóvel e carro importado;
Próximo Texto: Local não é fiscalizado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.