São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
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Avaliação de professores

JOSÉ ROBERTO DE FELÍCIO

Um comitê de especialistas, escolhido pelas três mais importantes sociedades norte-americanas de matemática, visitou 26 universidades nos EUA para descobrir se os pesquisadores apoiavam a idéia de levar em conta a atividade didática nas avaliações e promoções.
A intenção do levantamento era reverter a situação de desinteresse pelo ensino a partir de alterações nos critérios da progressão na carreira acadêmica, hoje fortemente assentados no trabalho de pesquisa.
O levantamento dos norte-americanos confirma a universalidade desse dilema. Todos concordam quanto à necessidade de criar mecanismos mais abrangentes de avaliação, mas ninguém sabe como fazê-lo. Só uma coisa parece ter consenso nessa área: a avaliação da atividade didática dos professores não pode estar baseada apenas nos questionários respondidos pelos estudantes, ao mesmo tempo em que não pode deles prescindir.
É preciso compor essa medida com outros índices de desempenho tais como a produção de material didático, nível dos cursos, orientação em iniciação científica etc.
O maior problema é encontrar medidas que permitam corrigir essa distorção sem cair em armadilhas ainda mais perigosas. Está claro, por exemplo, que a necessidade de apoiar e avaliar as atividades de ensino e de extensão não pode tirar da geração do conhecimento o papel principal nessa estória.
Mas fechar os olhos para o abismo que está se criando entre os níveis da pesquisa e do ensino é querer premiar o descompromisso com a transmissão do conhecimento e com formação de pessoal qualificado.
Os mecanismos já consagrados de cobrança das atividades de pesquisa, aliados à garantia de evolução na carreira por essa via, empurram a atividade didática para última prioridade. Por isso, a verdadeira solução para o problema só virá com a criação de mecanismos de recompensa, para quem ensina, que se assemelhem aos já existentes para quem faz pesquisa.
Mais ainda, para mudar de vez a cultura, será preciso tentar novos tipos de contrato de trabalho, provavelmente divididos em duas partes, que cubram separadamente as atividades de pesquisa e docência.
Quem não quiser ensinar pode ter contrato exclusivo para pesquisa com salário completado por fontes externas. Vale o recíproco para aqueles que não quiserem fazer pesquisa.
A medida principal é reconhecer que o tal tripé que caracteriza a universidade (pesquisa, ensino e extensão) não precisa se reproduzir ao seu nível celular (os professores).

JOSÉ ROBERTO DRUGOWICH DE FELÍCIO, 41, físico, é professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (USP). Foi chefe de gabinete da reitoria (90-92) e coordenador da administração geral da USP (92-93).

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