São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
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Amoroso é um artilheiro que pensa e joga

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A cada rodada, mais esse Guarani vai configurando o perfil de sério candidato ao título. Quem se arriscaria a tal previsão, no início do campeonato? Nem mesmo o técnico Carlos Alberto Silva, nitidamente o responsável pela incrível campanha do seu time. O mesmo Carlos Alberto Silva que, vindo silenciosamente do interior de Minas, em 78, onde montara duas surpresas para os eternos favoritos Atlético e Cruzeiro –o Formiga e a Caldense–, levou esse mesmo Guarani à conquista inédita do título brasileiro.
Pela primeira vez na história, um time do interior iria tão longe. Mais que isso: revelou, na época, um dos mais completos centroavantes de todos os tempos –Careca.
Mais ou menos o que está acontecendo agora com esse menino Amoroso, sobrinho daquele Amoroso, que, embora bem menos afamado e dotado que seus parceiros, integrou o grande Botafogo de Garrincha e Newton Santos.
Não se trata, pois, de mera coincidência, e, sim, de competência.
No sábado, por exemplo, o técnico não podia contar com seus laterais titulares. Teve de improvisar, contra um São Paulo que dava sinais de recuperação. Resultado: Guarani, 1 a 0, gol, claro, de Amoroso. É bem verdade que o tricolor se ressentiu da expulsão de Júnior Baiano, e que deixou escapar o empate, no finzinho, quando Aílton sozinho diante do goleiro chutou na trave a bola decisiva.
Mas o fato é que o Guarani foi sempre melhor, mesmo quando o jogo estava 11 contra 11. E o fato é que esse Amoroso é um artilheiro que pensa e joga. Não se limita a ficar por ali, na boca do gol, pegando as sobras para com elas construir a sua fama.
A propósito, ainda ontem, o Milton Neves fazia gozação com velha manchete de jornal sobre um artilheiro do Botafogo de Ribeirão de antanho: "Paulo Leão faz cinco. E só". Na contradição do texto, a lógica dos tempos em que se exigia mais de um artilheiro do que simplesmente empurrar a bola para o fundo das redes, embora este seja o gesto que encerra em si mesmo a própria lógica do jogo.
Claro que o futebol brasileiro teve goleadores famosos pelo puro senso de oportunismo, como Baltazar, o Cabecinha de Ouro, Gino Orlando, Dario, o Dadá Maravilha, etc. Mas os que se fixaram na memória dos tempos como verdadeiros mitos, estes sempre saíram da meia, onde se exige antes de mais nada talento, para o comando do ataque, como Leônidas da Silva, Ademir de Menezes, Heleno de Freitas, Tostão, Toninho Guerreiro, Coutinho, Mazzola e Careca.
Ah, e esse fenômeno chamado Romário. Como já disse o preclaro, trata-se de um fenômeno. E como tal deve ser visto.
Isso, claro, sem falar no maior de todos os artilheiros, aquele que mitificou a camisa dez e que rompeu com todos os cânones do futebol. Mas esse não era nem meia, nem centroavante. Era tão-somente Pelé.

Ah, Serginho, Serginho, que maldita compulsão é essa que está sempre à espreita para dar o bote nos momentos mais gloriosos de sua vida?
Se eu acreditasse nessas coisa, diria que é carma.

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