São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994 |
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"Quanto mais velha, mais sábia eu fico"
ERIKA PALOMINO
As perguntas feitas à cantora Madonna nesta entrevista, não foram formuladas somente pela enviada especial da Folha, mas sim por um grupo de 15 jornalistas internacionais. A seguir, Madonna fala sobre sua política ("gostaria de ver Bill Clinton cantando "Justify My Love" em um bar vagabundo"), moda e religião. A cantora explica que fim levou Dita, seu alter ego no dico "Erotica" e no livro "ex" e ainda da sua receita de sobrevivência "senso de humor". Onze ano depois de lançar eu primeiro disco, diz "ainda não conseguiu tudo na vida". Folha - Como você lida com o fato de ser a mulher mais famosa do mundo? Madonna - Yeak (risos) Eu não gosto. Dê esse título a outra pessoa. Folha - Quem? A princesa Diana? Madonna - Exatamente. Acho que ela também não vai gostar. Folha - Você conseguiu tudo na vida? Você é feliz? O que você mais espera? Madonna - Primeiro eu não consegui tudo na vida. Ainda há tanto para aprender. Folha - Qual o seu segredo para a sobrevivência? Madonna - Respeitar a si mesmo. E ter senso de humor (risos). Folha - Por que você escreveu "Love Tried To Welcome Me"? Madonna - Eu estava falando de um período específico em minha vida, quando o amor chegava até a mim, mas eu não estava preparada para recebê-lo. Meu coração é um caçador solitário. Na essência, o de todo mundo é. Há uma certa tristeza existencial em cada um de nós. Você pode encontrar alguém com quem dividir sua vida ou amigos que o compreendam. Mas no fundo você está sozinho. Folha - Tem alguma pergunta que nunca fizeram para você? Madonna - Sim: "Você está com fome?". Sim. Eu estou. Folha - Qual a diferença da Madonna que vemos no palco da Madonna que vemos como pessoa comum? Madonna - Muitas. Quando um artista vai para o palco, ele precisa ficar maior do que a vida. Assim é a arte. Você é uma pessoa de carne e osso que precisa ter energia para entreter milhares de pessoas. Por isso, você tem que se "magnificar" centenas de vezes. Assim, a diferença entre a pessoa que está aqui sentada e a pessoa que está no palco é: "Esta sou eu, eu sou magnífica". Folha - Qual é sua mensagem para as pessoas? É sexo, poesia, espiritualidade? Madonna - O que você acha? (pergunta ao repórter, colombiano) Repórter - Para mim? Poesia. E para você? Madonna - Sexo não é mensagem. Todo mundo tem uma sexualidade, todo mundo tem uma diversão. Minha mensagem é: seja verdadeiro para você mesmo. Isso envolve todas as outras coisas. Há poesia no lixo da rua, na sexualidade, em ser bobo, em se divertir, em religião, na tristeza... Folha - As pessoas amam ou odeiam você... Madonna - É uma linha fina entre o amor e ódio. Folha - Mas você quer ser amada? Madonna - Os dois são extremos. São emoções que são reações por sermos tocados por outra pessoa. Se você odeia ou ama alguém, é por que você foi tocado, atingido de alguma maneira. Folha - O que toda essa poesia e todo esse romantismo fez com "Dita", a sua persona de "dominatrix" de "Erotica" e de "Sex"? Madonna - Ainda está lá. Ela ainda está aqui. Em algumas canções de "Bedtime Stories", como "Secret", "Sanctuary" há algo de religioso, de espiritual. Folha - Há algo de novo nesse terreno para você? Madonna - Acho que eu sempre fui muito espiritualizada. Fui educada dentro do catolicismo e estudei muito sobre diferentes religiões –budismo, hinduísmo, etc.–, e eu estou tentando ver o que funciona para mim espiritualmente. Acho que todas as religiões têm algo para ensinar. Quanto mais velha, mais sábia eu fico, mais eu penso e reflito sobre essas coisas. Acho que eu estou mais próxima de minha idéia do que são minha espiritualidade e minha religião pessoal. Folha - Há alguma coisa que você queira e não possa conseguir? Madonna - Não. Folha - Você já transou ouvindo alguma de suas músicas? Madonna - Não, acho que eu iria ficar distraída (risos). Folha - E se você tivesse que fazer isso, que música seria? Madonna - "Jusfify My Love". Folha - Quem você gostaria de ver cantando "Justify My Love" num bar vagabundo? Madonna - Bill Clinton. Num dueto com Al Gore. Com um boá de penas no pescoço Folha - Que pergunta você nunca mais quer responder? Madonna - "Você não acha que já se expôs demais?" Folha - Você se interessa por política? Madonna - Eu faço política. Mesmo que eu não queira. Desde que você tenha um ponto de vista você está sendo político e o meu trabalho tem um ponto de vista bastante específico. Folha - Em Paris você desfilou para o estilista Jean Paul Gaultier. Vocês vão trabalhar juntos novamente? Madonna - Amo Jean Paul Gaultier, antes de tudo como ser humano. Com certeza vamos trabalhar juntos. Folha - Você se importa com a moda? Madonna - Eu amo moda. Eu adoro roupas. É um ótimo modo de se expressar. O que vestimos é reflexo do que nós somos. E é divertido brincar com a moda. Mas eu não levo muito à sério. Texto Anterior: Madonna desiste do sexo e volta ao romantismo Próximo Texto: Roberto Carlos adia shows no Olympia Índice |
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