São Paulo, terça-feira, 22 de novembro de 1994
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Arranjos barulhentos prejudicam resultado

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Não basta ser parecido. Tem que ser o mesmo. Para reproduzir um certo clima de bossa nova, Leila Pinheiro deveria seguir uma escala de um para um, ponto a ponto, faixa a faixa, em relação ao LP de João. Não consegue.
Toda vez que se distancia do objeto de culto (a série ortodoxa bossa-novista, que vai de 1958 a 1964), a cantora perde as estribeiras do estilo e canta como ela sempre cantou.
Suas reinterpretações não acrescentam ao já sabido. Leila não trai, mas tampouco soma. A impressão é de que vestiu alegremente a armadura de João. Mas, ao longo do disco, se entalou nela. Tudo soa muito artificioso. A voz da cantora se parece com um som longínquo de elmo trancado.
Os arranjos de Jota Moraes amplificam a impressão de cárcere. Ser acústico não salva ninguém do resultado medíocre. Os músicos desaprenderam a tocar bossa nova. Tocam como um jazz fusion que estivesse passando a noite na casa de Ivan Lins.
A contribuição maior do disco é regravar três canções esquecidas, que só não se tornaram standards por alguma conspiração da história: "Folha de Papel" (Sérgio Ricardo), "Por Quem Morreu de Amor" (Menescal-Bôscoli) e "Sem Mais Adeus", um achado, a primeira composição de Francis Hime, feita em 1963 em parceria com Vinicius.
(LAG)

Disco: Isso é Bossa Nova
Cantora: Leila Pinheiro
Arranjos: Jota Moraes
Músicos: Adriano Giffoni (baixo), Claudio Jorge (violão), Paulo Braga (bateria), Roberto Menescal (violão), Paulo Guimarães e Celso Woltzenlogel (flautas), Nilton Rodrigues e Walmir Gil (flugenhorn), Vítor Santos (trombone), Paulo Sérgio Santos (clarinete) e Marcos Suzano (percussão)
Produção: João Augusto
Lançamento: EMI-Odeon
Quanto: R$ 18 (o CD, em média)

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