São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 1994 |
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Camille Paglia perde a força do escândalo
DANIELA ROCHA
A professora de humanidades da Universidade de Artes da Filadélfia ficou conhecida como a intelectual mais politicamente incorreta dos Estados Unidos após a publicação de seus livros "Personas Sexuais" (1990) e "Sexo, Arte e Cultura Americana" (1992). Em "Vamps & Tramps" (Vamps e Vagabundas), ela apenas confirma tudo o que já declarou anteriormente –e que causou furor. Continua defendendo a legalização da prostituição, do consumo de drogas e do aborto. "O governo não deve interferir no comportamento privado", afirma em um de seus ensaios. Ela própria, "uma bissexual lésbica, também monástica, pervertida e voyeur", é objeto de muitos de seus artigos. Paglia estourou na mídia com sua linha "feminista-macho", que abalou tanto puritanos como liberados. E conseguiu o foco que buscava: roubou a cena com o crédito de ser uma intelectual que não fala apenas para acadêmicos. Camille Paglia tem muito em comum com seu ídolo Madonna (a cantora), mais uma vez citada em diversos de seus artigos. Ambas adoram se manter na mídia e causar impacto. Mas assim como a "pop star", os impactos anteriores que Paglia causou foram tão devastadores que agora nada do que diz assusta. Foi por isso que "Vamps & Tramps" não fez muito barulho. O livro reúne de entrevistas que deu a programas de TV a artigos sobre os novos escândalos noticiados, como o caso Lorena Bobbitt, a americana que cortou o pênis do marido com uma faca, ou a vida privada de lady Diana. As mulheres são alvos de muitos dos ensaios. Paglia explica sua admiração por Hillary Clinton, –"ela possui uma mentalidade tradicionalmente masculina, enquanto o marido tem um coração mole"– e também sobre Susan Sontag, Jackie Onassis, Barbra Streissand e Madonna, para citar algumas. Mas os ingredientes mais interessantes de "Vamps & Tramps" ficam por conta de dois capítulos. Em um deles, intitulado "Satires and Short Takes" (Sátiras e Tiradas Rápidas), Paglia reúne uma série de bilhetes de uma coluna de conselhos publicada pela revista "Spy". As perguntas eram do tipo: "Relacionamentos a longa distância dão certo?". E a resposta: "Toda relação é um triunfo da imaginação". O apêndice, outra pérola, tem duas partes. A primeira, "Cartoon Personae", reúne charges e cartuns publicados em diversos jornais e revistas em que Paglia aparece como personagem central. A segunda parte ("A Media Chronicle") traz uma lista de todos os artigos e reportagens sobre ela publicados em veículos do mundo todo, desde o lançamento de seu último livro, em 92. Um dos trechos mais hilários está no capítulo "Glennda and Camille go Downtown", que é transcrição de programa da drag queen Glennda Orgasm, gravado em maio de 93. Glennda e Camille andaram pelas ruas de Nova York e provocavam quem aparecia. E apareceu (logo quem) um grupo de mulheres que lutavam contra a pornografia. "Você está dizendo que está OK degradar a imagem da mulher?", pergunta uma das militantes. "Oh, querida, vai ler um livro. Onde fica a livraria? Mandem esta mulher para uma livraria, para uma loja de arte. Vá ver um quadro, um Caravaggio, um Michelângelo. Olhe para a arte grega. Isso o que fazem é puritano." Continua assim a acadêmica Camille Paglia. Livro: Vamps & Tramps Autora: Camille Paglia Quanto: US$ 15,00 Importação: Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, tel. 011/285-4033) Texto Anterior: Escritor Wole Soyinka deixa a Nigéria e chega em Paris Próximo Texto: 'Doce' Sallie rouba a cena Índice |
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