São Paulo, sexta-feira, 25 de novembro de 1994
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Caldo de cultura

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde os jornais da tosse, na Record e na Gazeta, o que não faltou foi gente criticando, ao vivo ou por fax, o movimento dos petroleiros.
Era só o começo, ainda em reação à simples decisão da greve, por uma categoria de funcionários públicos dados como privilegiados.
A coisa piorou no correr do dia, com a ameaça real de efeitos diretos da greve sobre consumidores e a economia. Alguns registros, na TV:
– A greve dos petroleiros pode afetar o abastecimento de gás de cozinha já este fim-de-semana em São Paulo, na Bandeirantes.
– A Comgás cortou fornecimento para trinta grandes indústrias da capital, na Globo.
– No Rio, os estoques de gás de cozinha duram apenas cinco dias e os dos outros derivados de petróleo dez dias, na Manchete.
– Em Fortaleza, a venda já está racionada, também na Manchete.
O racionamento provocou um desabafo de um senhor cearense, ouvido pela Manchete depois, ao que parece, de comprar ou tentar comprar gás:
– Os petroleiros estão fazendo o que querem mesmo. Daqui para a frente vai ser pior.
Já estava pior ontem, na descrição da Globo para a paralisação da grande refinaria de Cubatão, inteiramente tomada pelos grevistas:
– Os portões amanheceram trancados. Faz 36 horas que 800 petroleiros ocupam a refinaria. Só podem entrar os técnicos de manutenção.
É o caldo de cultura para um confronto como foi aquele entre Margaret Thatcher e o corporativismo dos mineiros de carvão da Inglaterra.
Ao menos, é o que parece querer um exaltado candidato a Thatcher como o ministro Ciro Gomes, que ontem voltou a opinar, sem ser chamado.
– Eu já fiz isso no Ceará. Dava um cacete neles e eles voltavam a trabalhar.
A frase, na CBN, explica por que o colérico do Ceará se dá tão bem com o imperador da Bahia. Ainda se sentem, os dois, na Casa Grande.
Esquadrões da morte
Surgiram como "imagens de cinegrafista amador", no Aqui Agora. Cinco corpos de costas, cabeças rodeadas de sangue. Na Grande São Paulo.
Foram "imagens chocantes", na opinião até do acostumado Gil Gomes. Mas nem ele foi capaz de falar a palavra que é tabu, em São Paulo.
Justiceiros.

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